Postado às 05h15 | 07 Nov 2021
Sem competência para entender as dimensões e as complexidades dos problemas que tem a responsabilidade de resolver, o presidente Jair Bolsonaro procura apenas se livrar deles. Ora anuncia providências inúteis ou impraticáveis para resolvê-los, ora os menospreza. Em geral, fala grosso, como é da natureza de pessoas com baixo grau de civilidade. Com essa atitude irresponsável, mas de nítidas intenções eleitorais, acaba criando mais problemas, que continuará a lidar com o mesmo método.
Bolsonaro vem agindo persistentemente desse modo no caso dos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha, cuja alta tem forte impacto inflacionário, afeta o orçamento de famílias – o que corrói ainda mais sua decadente popularidade – e incomoda alguns segmentos até agora fiéis ao presidente, como uma parte dos caminhoneiros.
Em sua vexaminosa passagem pela Itália, onde oficialmente participaria da reunião dos dirigentes do G-20 (o grupo das 20 maiores economias do planeta), mas não tratou de nenhum assunto de relevância para o Brasil nos planos diplomático e econômico, Bolsonaro prometeu “jogar pesado” com a Petrobras.
“Essa semana vai ser um jogo pesado com a Petrobras”, disse Bolsonaro, na cidade de Anguillara Veneta, no norte da Itália, onde recebeu o título de cidadão local, cumprindo agenda pessoal. Disse que é responsável pela indicação do presidente da estatal, mas o nome precisou da aprovação do conselho de administração da empresa. Mas tudo de ruim que lá acontece “cai no meu colo”, o que não ocorre com o que é bom. O presidente ainda disse ter sabido, de maneira extraoficial, que a empresa aumentará novamente os combustíveis em até 20 dias. “Isso não pode acontecer”, garantiu.
Bolsonaro tenta, assim, mostrar-se rigoroso no trato de um tema de grande interesse social e econômico. É um modo de dar alguma satisfação à população cada vez mais preocupada em colocar comida na mesa. Por mais duro que seja seu jogo, porém, será inútil para conter o preço dos derivados de petróleo. Há muitos fatores que pressionam o preço dos combustíveis em todo o mundo. Obviamente um país isoladamente pode mitigar alguns impactos desses fatores, mas não todos.
A situação fica ainda pior com atitudes como as que Bolsonaro costuma tomar nessa questão, que geram insegurança com relação ao respeito do governo às regras da economia. Esse clima de dúvidas e incertezas contribui para aumentar o custo da dívida pública e, em especial, pressiona a taxa do câmbio. Dólar mais caro dificulta as importações, eleva o preço dos produtos cotados internacionalmente – como os do agronegócio e os do petróleo e de seus derivados – e impulsiona a inflação. Inconsistências e espertezas da política fiscal completam o cenário cada vez mais sombrio.
Em nota, a Petrobras afirmou que os ajustes de preços “são realizados no curso normal de seus negócios” e “seguem as suas políticas comerciais vigentes”. A despeito de óbvia para aqueles que, com alguma sensatez, acompanham o mundo empresarial, a resposta é necessária num governo em que sensatez é um bem escasso. E seguir políticas vigentes, outra obviedade no mercado, não tem sido marca de um governo tão errático como o de Jair Bolsonaro.
Foi preciso, por isso, que o presidente da Petrobras, general da reserva Joaquim Silva e Luna – escolhido por Bolsonaro para ocupar o cargo –, dissesse o que todos deveriam saber, a começar pelo seu maior acionista, que é o governo federal. A empresa não pode fazer políticas públicas, que é tarefa do governo. Como empresa, a Petrobras precisa atender a interesses de seus acionistas, gerando-lhes resultados financeiros. O maior dos acionistas é o próprio governo, responsável por políticas públicas e que pode fazer o que bem quiser com os dividendos que a Petrobrás gerar.
Transformar tudo em tema de palanque, como Bolsonaro faz com assuntos de responsabilidade de seu governo nos campos de saúde, educação, reformas, energia, entre outros, só atrapalha um país já às voltas com grandes dificuldades para retomar o crescimento.