Postado às 06h02 | 12 Out 2021
Editorial do Estado
Setores do agronegócio procuram alternativas a Jair Bolsonaro entre os candidatos de centro para as eleições presidenciais de 2022, mostrou reportagem do Estado. Além de ser uma atitude de prudência – com seus atuais índices de desaprovação, Jair Bolsonaro não é empecilho para a volta de Lula –, a movimentação revela um aspecto fundamental da relação entre o agronegócio e a política. Mais do que soluções, o lulopetismo e o bolsonarismo trazem problemas, de diversos níveis, para o setor agropecuário.
Por diferentes meios, Lula e Bolsonaro reforçam a equivocada imagem de que o agronegócio é inimigo do meio ambiente. Nos governos petistas, o setor sempre foi tratado como vilão das causas sociais e ambientais, o que levou a um agravamento dos conflitos entre o campo e ambientalistas, movimentos de sem-terra e ONGs.
Dessa forma, a agropecuária não tem nenhum motivo para apoiar uma volta de Lula ao Palácio do Planalto. Significaria transigir com o nefasto histórico petista, que ainda não foi esquecido. Enquanto esteve no poder, o PT financiou, com dinheiro público, grupos e organizações cujas práticas incluíam difundir desinformação sobre o agronegócio, ameaçar produtores rurais e produzir tensão no campo.
Por isso, o apoio do campo em 2018 ao candidato anti-Lula foi tão expressivo. No entanto, de 2019 para cá, também ficou evidente que Jair Bolsonaro atrapalha o agronegócio. De forma inteiramente irracional, o Palácio do Planalto difundiu, no cenário internacional, a imagem de um Brasil inimigo do meio ambiente.
“A credibilidade do País foi perdida com a permissão de ilegalidades, a extração de madeira e o garimpo. Se não enfrentar isso e o grilo de terras, que é roubo de terra pública, não resolve nada, não adianta ficar falando de bioeconomia e de pagamento por serviço ambiental na Amazônia. Nisso o governo falhou e é muito grave”, disse Pedro de Camargo Neto, que foi presidente de diversas entidades do setor rural, ao Estado.
O agronegócio é um grande aliado da preservação ambiental. As áreas de vegetação nativa preservadas por agricultores, pecuaristas, silvicultores e extrativistas equivalem a 26,5% do território brasileiro, o que representa um imenso patrimônio privado imobilizado a serviço da preservação do meio ambiente. Entre outros fatores, esse quadro é o resultado de uma legislação ambiental moderna, equilibrada e responsável, que é referência no mundo inteiro.
No entanto, apesar de tudo isso, Jair Bolsonaro conseguiu dar ao Brasil a condição de pária internacional em matéria ambiental, o que favorece os concorrentes das exportações brasileiras. De forma paradoxal, o discurso a favor do meio ambiente tornou-se arma contrária aos produtos brasileiros. Ou seja, o bolsonarismo também faz mal ao agronegócio, ao dificultar a conquista e ampliação de novos mercados.
O distanciamento de setores do agronegócio em relação ao governo federal tornou-se explícito nas vésperas do 7 de Setembro. Enquanto o presidente Bolsonaro convocava a população para o enfrentamento com outros Poderes, entidades do setor publicaram uma veemente carta em defesa da democracia e das instituições.
“Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis”, dizia o documento assinado, entre outras entidades, pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal. A carta também fazia um alerta a respeito do “tensionamento e riscos de retrocesso e rupturas”.
O agronegócio tem muito a ensinar ao País. Fala-se muito – e com razão – do seu papel positivo para a balança comercial. Suas contribuições, no entanto, vão muito além disso, por exemplo, na preservação ambiental, no aumento da produtividade e na criação de empregos cada vez mais qualificados. Agora, o setor pode ser também uma importante ajuda na política, fortalecendo o centro democrático e responsável.