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Editorial do Estado de São Paulo: " Do jeito errado e sem a maioria"

Postado às 05h46 | 30 Mai 2020

Editorial do Estado de São Paulo

Em seus arroubos contra as instituições, o presidente Jair Bolsonaro gosta de se colocar como fiel escudeiro da vontade popular. A proximidade com o cidadão comum seria seu baluarte. Segundo o discurso bolsonarista, todo o restante seria secundário, o importante seria a conexão do presidente Bolsonaro com o sentimento majoritário da população brasileira, o que lhe autorizaria a fazer o que bem entender. O povo estaria incondicionalmente ao lado de Bolsonaro – ao lado dessa espontaneidade sem regras, freios ou protocolos.

Ainda que entusiasme os camisas pardas, esse discurso está muito distante da realidade. Na verdade, há algum tempo a maioria da população desaprova o modo como Jair Bolsonaro governa. A maioria não está ao seu lado, como indica, entre outras sondagens, a última pesquisa do Datafolha, realizada nos dias 25 e 26 de maio.

A avaliação do presidente Jair Bolsonaro é ruim ou péssima para 43% dos brasileiros. É o maior porcentual de rejeição desde o início do governo. Os que o consideram ótimo ou bom são 33%; e regular, 22%. Na comparação com os outros três presidentes anteriores – Fernando Henrique, Lula da Silva e Dilma Rousseff –, nesse mesmo tempo de governo, Jair Bolsonaro tem a pior avaliação.

A respeito do comportamento do presidente Jair Bolsonaro, 37% consideram que ele nunca se comporta de forma adequada. Em posição oposta, 13% acham que Bolsonaro se comporta adequadamente em todas as ocasiões. A rejeição é quase três vezes maior, mostrando o equívoco de dizer simplesmente que o País está dividido em relação a Bolsonaro. Há sim apoiadores do presidente, mas o fato é que existem muito mais pessoas descontentes com seu modo de governar.

Quanto à avaliação do desempenho do presidente da República em relação à pandemia, os números são ainda piores para Jair Bolsonaro. Metade dos brasileiros (50%) avalia como ruim ou péssimo o desempenho de Bolsonaro na pandemia. Aqueles que o consideram ótimo ou bom são 27%; e regular, 22%. A esse respeito, são significativas as quedas na avaliação positiva do Ministério da Saúde nos últimos dois meses, após as demissões de Luiz Henrique Mandetta e de Nelson Teich. Jair Bolsonaro pode achar que faz impunemente o que bem entender, mas a população não viu com bons olhos a atuação presidencial na Saúde.

Outro dado é que, para a maioria dos brasileiros (53%), o presidente da República tem responsabilidade, em alguma medida, pelo avanço da pandemia. Para 33% dos entrevistados, Bolsonaro é muito responsável pelo atual quadro; e para 20%, “um pouco responsável”. Vê-se que a maioria da população não acha nenhuma graça com o “e, daí?” de Bolsonaro, em relação ao número de mortes pela covid-19.

E não é apenas uma única pesquisa a mostrar a rejeição a Bolsonaro. Realizada em 28 de maio, a sondagem da XP/Ipespe aponta, por exemplo, que, para 49% dos brasileiros, o governo de Bolsonaro é ruim ou péssimo; para 26%, ótimo ou bom; e para 23%, regular. Novamente, fica evidente a desproporção da rejeição. O número de pessoas que desaprovam o governo de Jair Bolsonaro é quase o dobro das que o aprovam.

Com 17 meses de governo, é evidente que a rejeição a Bolsonaro não é nenhuma torcida contra o País ou para que o governo fracasse. É antes a decepção de quem, no início de 2019, nutria expectativas de que o novo governo pudesse trazer melhorias ao País, mas que, decorrido menos de ano e meio, vê com cansaço um quadro desolador de irresponsabilidades, ações destemperadas, conflitos desnecessários e prevalência de interesses familiares.

Trata-se de um fato: a maioria da população não apoia o modo de Jair Bolsonaro governar. Além disso, está claro, a essa altura, que esse jeito de conduzir o País, criando continuamente conflitos com outros Poderes, não lhe traz nenhum apoio popular adicional. Não se pode nem mesmo dizer que Bolsonaro esteja consolidando uma base de apoio, pois esta é cada vez menor. O que cresce é a oposição a ele. Por que não fazer do jeito certo, governando dentro dos limites constitucionais, com planejamento, competência e responsabilidade? Talvez assim Bolsonaro experimentasse uma sensação inédita – a de ver crescer o número de pessoas que aprovam o seu governo.

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