Postado às 06h45 | 05 Ago 2022
Ney Lopes
Morreu na madrugada desta sexta-feira, 5, aos 84 anos, o escritor e humorista Jô Soares.
O Brasil perde um artista único, talentoso e culto.
Ganhou notoriedade com o Viva o Gordo (1981-87), grande sucesso na Globo.
No fim da década de 1980, no SBT comandou o Veja o Gordo (1988-90) e o talk show Jô Soares Onze e Meia (1988-99).
Voltou à Globo em 2000 com o Programa do Jô, também dedicado a entrevistas e variedades, no ar até 2016.
Recordo que, após ser incluído numa lista da revista VEJA entre os oito parlamentares considerados eficientes no Congresso, recebi convite para participar do seu programa, juntamente com o então deputado José Genoíno.
Abordando temas políticos polêmicos, Jô confrontou os dois parlamentares, à época pertencentes ao PFL e ao PT.
Para mim foi uma honra, pelo alcance nacional do programa do Jô, que era pessoalmente um “gentleman.
Antes de ingressar na carreira artística, ele chegou a pensar em ser diplomata.
Por isso, falava cinco idiomas com fluência, além do português: inglês, francês, italiano, espanhol e alemão.
Chegou a atuar como roteirista, dramaturgo, diretor e até músico. Pertencia a Academia Paulista de Letras.
Foi autor de cinco livros e atuou em 22 filmes.
Além disso, entrevistador brilhante. Introduziu no Brasil o “talk show” na TV ou rádio, em que uma pessoa ou um grupo de pessoas se junta e discute vários tópicos que são sugeridos e moderados por um apresentador.
Na famosa canequinha que Jô usava durante os programas, segundo o garçom, o apresentador tomava águas, refrigerantes e até sopinha.
Em sua autobiografia, admitiu sofrer de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Disse que, na sua casa, os quadros precisam todos estar tombados um pouco para a direita.
Jô deixa um acervo cultural a ser preservado.
Atuou mais de 60 anos como intelectual, inclusive na condição de comediante, quando as suas sátiras transmitiam mensagens à sociedade.
O país reverencia a memória de Jô Soares.
Que Deus o receba na Eternidade, com as honras que merece,
PS. O que se observa na política brasileira atual, de parte a parte, lembra aquele personagem de Jô Soares, que voltava à consciência, após anos em coma e ouvia as notícias contadas pelas pessoas.
Atônito, ele não acreditava no que ouvia e optava para continuar inconsciente, exclamando “tira o tubo”, como forma de fugir da realidade