Postado às 10h29 | 22 Mar 2020
Diário do Nordeste
Se para os brasileiros o isolamento se tornou parte da realidade recentemente, na China a ação foi uma constante nos últimos meses. Para a cearense Melina Rosendo, de 27 anos, só agora em Março a vida em Pequim parece dar sinais de retomada ao mínimo de normalidade, quando a própria chegou ao 55º dia seguido de distanciamento social. A jovem saiu do território cearense em setembro de 2019 para estudar mandarim e passou pelas semanas iniciais do que se tornaria a pandemia do novo coronavírus, o COVID-19.
Antes, ela conta, todos acreditavam que a doença era algo comum no período de inverno chinês. "Quando começamos a falar sobre a doença era período do inverno. Os meses mais frios são dezembro e janeiro. Quando eu conversava com os chineses eles diziam para ter cuidado porque era uma época do ano que sempre tinha algum tipo de gripe que adoecia a todos. Então, não era nada surpreendente. Depois começamos a receber notícias que era algo mais sério, que se assemelhava a pneumonia. E aí veio a quarentena", explica. Em Pequim, onde mora desde então, ela conta que o isolamento não foi obrigatório, mas a recomendação foi acatada pela população de forma voluntária.
Aos poucos
Pela janela do apartamento, onde vive sozinha, ela percebeu o esvaziamento das ruas. No início, tudo estava complicado. "Eu vim para a China para aprender mandarim e aproveitar uma cultura diferente. Quando tudo aconteceu eu estava sozinha. Eu sabia que estava segura, porque não tinha contato com ninguém. Nos primeiros 14 dias fiquei tensa. Eu sozinha, em outro país... Então, meu Deus. Se eu tivesse doente e sozinha? Eu era acostumada a sair e de repente me vi assim. Tive que procurar coisas para fazer a manter minha cabeça ocupada", diz. A decisão de não voltar ao Brasil foi tomada por conta da possibilidade de contágio no caminho de retorno.
Segundo Melina, além do isolamento, algumas medidas mais simples foram essenciais no combate à doença. Uma delas foi adotada pelo condomínio onde vive, que distribuiu uma cartão para todos os moradores.
"Para onde vamos levamos o cartão e é medida a nossa temperatura. O que mais funcionou aqui foi tirar as pessoas doentes do convívio com a sociedade. O hospital construído em 10 dias foi, na verdade, um grande galpão para onde levaram equipamentos. A sociedade chinesa é muito organizada. Se não há contato com ninguém, não adoece. É simples", reforça.
Agora, com a diminuição dos novos casos na China, a cearense pede pelas ações de cada um. Eu não sei como as coisas vão ser realizadas no Brasil, não sei se as coisas vão ter a mesma eficácia e se as pessoas vão ter consciência. Não fui para casa pela minha família, e agora minha família está sujeita a isso. Quanto antes se criar o hábito da quarentena, antes se resolve".