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DEM e PSL avançam em fusão; entenda o que os partidos buscam com união

Postado às 06h26 | 21 Set 2021

Depois de meses de negociações, PSL e DEM estão prestes a dar os últimos passos rumo à fusão que dará origem ao maior partido do país. A Executiva dos Democratas vai se reunir hoje em Brasília para deliberar sobre a proposta de união entre as legendas e, caso a avalize, o compromisso deverá ser formalizado em outubro. A relação está gerando incômodos no Palácio do Planalto.

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A cúpula do PSL, comandado pelo deputado federal Luciano Bivar (PE), também será convocada esta semana para se debruçar sobre o tema. Mas, como o movimento em busca da junção de forças partiu da sigla, seus dirigentes não devem criar entraves — o que motiva as duas legendas é um jogo de ganha-ganha para ambos os lados.

O PSL caminha rachado desde que o presidente Jair Bolsonaro rompeu com Bivar e se desfiliou do partido. De lá para cá, fieis integrantes da base aliada e inimigos do Palácio do Planalto convivem às turras dentro do mesmo espaço. Assim que o chefe do Executivo anunciar para qual legenda irá, seus apoiadores, como as deputadas Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF), por exemplo, vão acompanhá-lo. A migração em massa levará nomes e votos. Quem sair, porém, deixará para trás um portentoso caixa — somados, os fundos eleitorais das duas legendas chegam a R$ 320 milhões. E isso atrai o DEM, que recebeu R$ 120 milhões em 2020.

Um dos partidos mais tradicionais do cenário político pós-redemocratização, o DEM enxerga na fusão o fôlego financeiro de que precisa para lutar contra o processo de esvaziamento recente. Presidida pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto, a sigla tem nomes de expressão nacional e com perspectiva de vitórias importantes em 2022. O próprio Neto é um candidato competitivo na corrida pelo governo da Bahia, assim como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que concorrerá à reeleição.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), vem sendo cotado para vestir o figurino da terceira via e se candidatar à Presidência da República, embora ele também venha negociando com o PSD. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, outro quadro do DEM, seria o plano B. Do lado do PSL, o apresentador José Luiz Datena, que se filiou recentemente, já deixa claro que ambiciona o mesmo espaço de destaque. Ele também tem convite do PDT e conversas marcadas com os ex-governadores de São Paulo Geraldo Alckmin (ainda no PSDB, mas costurando a saída) e Márcio França (PSB).

— Uma super fusão implica numa série de detalhes. A mim, foi dito pelos dirigentes do PSL que continua o compromisso de eu disputar a Presidência da República. E que seria apresentado ao DEM como candidato da fusão. Aí aparecem outros nomes como Mandetta e Pacheco. Eu aceitaria qualquer um dos dois como vice. Mas, se me convidarem para ser vice do Mandetta ou do Pacheco, vou dizer “não” — adiantou Datena.

Essa é apenas uma das arestas que o comando da futura legenda, que teria Bivar como presidente e Neto como vice, teria de aparar. Outras se multiplicam pelos estados, onde os cenários domésticos por vezes inviabilizam a presença de integrantes de DEM e PSL no mesmo palanque.

A perspectiva de nascimento de um partido de grande porte com nomes dispostos a se lançar ao Planalto gerou reações em torno de Bolsonaro. De acordo com o colunista do GLOBO Lauro Jardim, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi escalado para melar as tratativas e tem trabalhado para convencer Bivar e Rueda a desistir da empreitada.

O GLOBO apurou que tanto DEM quanto PSL acenaram ao senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), um dos principais defensores do Planalto na CPI da Covid, com a presidência do partido em Rondônia.

— Conversei com o presidente ACM. Ele me explicou como estão as tratativas, e estamos alinhados. A fusão é uma hipótese que está sendo conversada, avaliada. O que for melhor para o partido terá o meu apoio — esquivou-se Rogério.

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Apesar do projeto do DEM e PSL de abraçar a terceira via, há políticos bolsonaristas nas duas legendas. No DEM, Onyx Lorenzoni e Teresa Cristina ocupam ministérios; no PSL, grande parte da bancada da Câmara é entusiasta de Bolsonaro, entre eles o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), que, junto com o pai, elegeu-se pelo partido em 2018.

Conversa com PP

Antes de se aproximar do DEM, o PSL chegou a negociar a fusão com o PP. Dois pontos, no entanto, emperraram as negociações. O PSL não aceitou que Bolsonaro fosse filiado à futura legenda e tampouco concordou em declarar apoio a ele. O PSL também não concordou com a concentração de poderes que ficaria nas mãos de Ciro Nogueira. Embora ele tivesse topado ocupar a Secretaria-Geral de uma eventual futura sigla, Nogueira teria mais força do que o presidente, Bivar. Caberia a ele, por exemplo, o controle do fundo partidário.

Juntos, DEM e PSL teriam a maior bancada na Câmara com 81 deputados e somariam sete senadores e cinco governadores. A nova sigla, com nome ainda a ser discutido, também teria maior fatia de recursos eleitorais, somando cerca de R$ 330 milhões em 2022, valor que pode ser ainda maior caso o Congresso opte por aumentar as porcentagens destinadas a todas as legendas.

 

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