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'Debandada' reflete congelamento de agenda de Guedes no governo Bolsonaro

Postado às 04h50 | 12 Ago 2020

Renato Andrade

"debandada" da equipe de Paulo Guedes, como o próprio ministro se referiu à demissão dos secretários especiais de Desestatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, é reflexo do congelamento completo da agenda liberal no governo Bolsonaro.

Salim Mattar, empresário de sucesso no setor privado, chegou ao governo com a missão de cuidar das privatizações. Mas nestes quase 20 meses de gestão, a agenda de venda de empresas estatais ficou exatamente onde ela estava em janeiro de 2019.

Paulo Uebel, ex-secretário de João Doria quando o governador de São Paulo ainda era prefeito da capital paulista, tinha sob suas mãos a cobiçada reforma administrativa, outra medida que fez muito barulho, mas acabou adiada para, quem sabe, ser tocada em 2021.

As conveniências políticas foram o freio de mão dessa reforma. O presidente Jair Bolsonaro não gosta de mexer com servidores, e seu governo sem base consolidada, dependente de um centrão num ano de eleições municipais, não mandaria para o Congresso nada que alterasse a vida de um contingente que quer segurança e não abre mão de direitos após passar no concurso público.

Guedes tentou ganhar impulso com esse revés, ao anunciar as demissões: ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do líder do centrão Arthur Lira, negou que o governo vá furar o teto de gastos, como defendem integrantes da própria gestão, e lembrou que foi o descontrole das finanças que gerou a crise econômica que fez Dilma Rousseff perder sua cadeira no terceiro andar do Palácio do Planalto.

É preciso saber se Bolsonaro vai ouvir o recado. É a estratégia possível, diante dessa perda na equipe. Mas nestes momentos vale lembrar o muito citado e muito pouco imitado Winston Churchill. Diante do sucesso da operação que comandou para retirar as tropas aliadas cercadas por nazistas em Dunquerque, o primeiro-ministro britânico cuidou de jogar água fria no entusiasmo ao lembrar que "não se ganham guerras com retiradas".

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