Postado às 04h34 | 25 Ago 2020
Diário de Notícias, Lisboa, Portugal
Duas das estrelas em ascensão fecharam com uma visão otimista o primeiro dia da Convenção Nacional Republicana, marcada sobretudo por avisos sombrios e por um Donald Trump 'omnipresente'.
Enquanto muitos republicanos aproveitaram os seus discursos para preverem um "filme de terror" nacional caso Donald Trump perca as eleições em novembro, o senador Tim Scott e a ex-embaixadora na ONU Nikki Haley procuraram dar as boas-vindas a novos eleitores para ajudar a ampliar a base de apoio do candidato e atual presidente.
Scott, o único senador negro do Partido Republicano, começou por criticar o candidato democrata e ex-vice-Presidente de Barak Obama, Joe Biden.
"Joe Biden disse que se um homem negro não votasse nele, é porque não era realmente negro. Joe Biden disse que os negros são uma comunidade monolítica", acusou.
O senador reconheceu que os afro-americanos às vezes são vítimas da brutalidade policial, mas depois disse: "A verdade é que o arco da nossa nação sempre se inclina para a justiça. Não estamos totalmente onde queremos... mas graças a Deus não estamos onde costumávamos estar", sustentou.
Uma ideia em sintonia com as declarações da ex-embaixadora na ONU: "Eu era uma garota morena num mundo preto e branco", disse Haley, sublinhando que enfrentou discriminação, mas rejeitando a ideia de que "a América é um país racista".
Ao mesmo tempo, falou para o movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam): "claro que sabemos que cada vida negra é valiosa".
Contudo, os esforços para se atingir um tom mais otimista na convenção foram frequentemente ofuscados pelas acusações de que Biden destruiria os Estados Unidos, permitindo que as comunidades fossem invadidas pela violência.
"Joe Biden é bom para o Irão e para o ISIS, ótimo para a China comunista e é uma dádiva de Deus para todos os que desejam que a América peça descupa, abstenha-se e abandone os nossos valores", destacou Nikki Haley.
O deputado Matt Gaetz, da Florida, comparou a perspetiva da eleição de Biden a um filme de terror.
"Eles vão desarmar-vos, esvaziar as prisões, trancar-vos em casa e [vão] convidar o MS-13 para morar ao lado", declarou Gaetz, numa alusão a um gangue formado principalmente por salvadorenhos que atua nos Estados Unidos e na América Central.
A convenção do Partido Republicano marca um momento crucial para Trump, um Ppresidente que está a terminar o primeiro mandato, mas que está a perder na maioria das sondagens.
Um profundo sentimento de pessimismo parece ter-se instalado no eleitorado dez semanas antes do dia da eleição. Apenas 23% dos norte-americanos acham que o país está a seguir a direção certa, de acordo com uma nova sondagem realizada em conjunto pela agência de notícias Associated Press (AP) e pelo Centro de Investigação de Assuntos Públicos (NORC).
Trump, cujo discurso principal estava previsto apenas para o final da semana, fez várias aparições públicas durante o primeiro dia da convenção de quatro dias.
"A única maneira de eles nos tirarem esta eleição é se for através de uma eleição fraudulenta", disse Trump a centenas de delegados republicanos reunidos na Carolina do Norte, levantando novamente preocupações sobre o voto por correspondência durante a pandemia, apesar dos especialistas afirmarem que este se mostrou sempre extremamente seguro.
Alguns membros republicanos estão preocupados com a ideia de que os Estados Unidos estejam a sofrer de 'fadiga de Trump', mas o presidente não abdicou do palco.
Na segunda-feira, surgiu disponível para as homenagens dos apoiantes, assistiu a imagens triunfais da sua presidência e a anúncios de ataque a Biden. E por diversas vezes incluiu-se no programa do evento, o que tudo indica deverá repetir-se nos próximos três dias.
A convenção republicana ocorre no momento em que mais de 177 mil norte-americanos morreram com covid-19 e mais de 5,7 milhões foram infetados, com a pandemia a causar um grande impacto na economia e na taxa de desemprego.
Um dos vários afro-americanos incluídos na programação da convenção, a ex-estrela do futebol norte-americano Herschel Walker, defendeu o presidente daqueles que o apelidam de racista.
"Dói-me a alma ouvir os nomes terríveis que as pessoas chamam a Donald [Trump]", disse. "O pior é racista. Eu considero um insulto pessoal que as pessoas pensem que eu teria uma amizade de 37 anos com um racista", acrescentou.
A convenção republicana também contou com a presença de Mark e Patricia McCloskey, o casal de St. Louis que foi detido após apontar armas para manifestantes do "Black Lives Matter" que passavam pela casa onde residem.
"Os democratas já não olham para o trabalho do Governo focado em proteger cidadãos honestos dos criminosos, mas sim em proteger criminosos dos cidadãos honestos", acusou o casal, para acrescentar: "Não se enganem: não importa onde moram, as suas famílias não estarão seguras na América democrata radical".
A Convenção Nacional Republicana começou nesta segunda-feira, durante a qual será oficializada a nomeação de Donald Trump como candidato do partido à reeleição nas eleições de novembro.