Postado às 16h39 | 24 Abr 2020
Ney Lopes
O país dormiu com a hipótese de que as “labaredas” de ontem, 23, causadas pela hipótese de atrito entre o Presidente e Moro, seriam contidas pela prudência da ala militar do Planalto. Tal não ocorreu.
Na madrugada de hoje, 24, ao circular o Diário Oficial da União, lá estava o ato presidencial exonerando da direção-geral da Polícia Federal, o respeitado delegado Maurício Leite Valeixo, amigo de longa data do Ministro Sérgio Moro, que dormiu sem ter conhecimento da decisão do Presidente.
Na verdade, no final da tarde de ontem, não existiram “labaredas” em Brasília, mas sim “fogo de monturo” (queima por baixo sem que se perceba), transformado em “incêndio”, sem que se possa avaliar até onde as “fagulhas” atingirão a governabilidade do país.
O ato da exoneração não aponta substituto, cuja escolha tradicionalmente é do Ministro da Justiça. As evidencias demonstram que a “crise em marcha” tem origem na abertura pelo STF de inquérito para investigar quem “organizou e financiou” manifestações em defesa da ditadura. A maior suspeita é que o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, esteja por trás do movimento, que defende o fechamento do STF e do Congresso e a volta do AI-5.
Além disso, o governador do DF, Ibaneis Rocha, que fazia até críticas a Bolsonaro, ultimamente aproximou-se do Presidente e “comanda” ferrenha oposição à Moro, quando diz: “Moro nunca fez nada desde que chegou ao ministério e seria melhor que voltasse para as investigações de corrupção. Foi um grande erro do presidente. Moro está fazendo um péssimo trabalho”.
Todos esses ingredientes elevam o risco da decisão de Bolsonaro, por atingir “em cheio” o ministro Sergio Moro, considerado em várias pesquisas, a personalidade pública em que os brasileiros mais confiam, entre 12 nomes, incluído o próprio Bolsonaro. O que fará Moro? Essa é a expectativa da Nação.
Qual explicação dará o Presidente, salvo a rotina de que tudo tem origem na imprensa e nos comunistas? O país está, mais uma vez, no fio de uma navalha e o cenário lembra a conhecida máxima do ex-Ministro Mario Henrique Simonsen:
“O trapezista morre quando pensa que voa”