Postado às 15h57 | 17 Out 2020
Agência de notícias portuguesa
Um estudo realizado em Inglaterra revelou novas descobertas sobre os efeitos a longo prazo da Covid-19. De acordo com os investigadores, estes efeitos podem ser causados por quatro síndromes diferentes e têm impacto na respiração, no cérebro e no sistema cardiovascular
A pandemia da Covid-19, declarada pela Organização Mundial de Saúde em março, tem tido um forte impacto na vida das pessoas, nos serviços de saúde e nas estruturas políticas à escala mundial. Apesar disso, passados sete meses, os médicos e cientistas continuam à procura de respostas para questões impostas pelo vírus.
De acordo com a crença generalizada, o tempo de infeção da maior parte das pessoas dura em média duas semanas, sendo que os casos mais graves da doença tipicamente duram cerca de três semanas. No entanto, um estudo publicado no dia 15 de outubro revelou que, para milhares de pessoas, a Covid-19 pode ser uma doença de longa duração e não uma infeção que dura poucas semanas.
O estudo, do Instituto Nacional de Investigação em Saúde de Inglaterra, foi coordenado por Elaine Maxwell. De acordo com a médica inglesa, existe uma “perceção generalizada” sobre o vírus da Covid-19 “de que as pessoas morrem, vão para o hospital ou recuperam depois de duas semanas.” No entanto, diz a médica, “começa a ser claro que, para algumas pessoas, existe um caminho diferente, de efeitos de longa duração.”
Quatro síndromes podem causar a “Covid de longa duração”
Para realizar o seu estudo, os investigadores analisaram uma amostra de catorze pessoas afetadas por efeitos de longa duração da Covid-19, assim como as pesquisas científicas mais recentes sobre o tema. O seu relatório identificou sintomas recorrentes entre estes pacientes, que afetavam diferentes funções e partes do corpo – desde a respiração, o cérebro e o sistema cardiovascular aos rins, fígado e pele.
O estudo indicou que estes sintomas podem justificar-se por quatro síndromes diferentes: danos permanentes nos pulmões e no coração, a síndrome pós-internamento nos cuidados intensivos, a síndrome de fatiga crónica ou os próprios sintomas prolongados da Covid-19. De acordo com os investigadores, “começa a ser claro que, para algumas pessoas, a Covid-19 é uma doença de longa duração”.
Milhares de pessoas podem estar a viver com Covid-19 de longa duração
ELAINE MAXWELL, INVESTIGADORA NO NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH RESEARCH (NIHR)
Outros estudos também apontam neste mesmo sentido. De acordo com uma equipa de médicos de Itália, 87% dos pacientes com Covid-19 dispensados de um hospital em Roma ainda estavam com sintomas 60 dias depois de terem alta médica. Estes sintomas incluíam fatiga, dificuldade em respirar, dores no peito e redução da qualidade de vida em geral. Um estudo do Serviço Nacional de Saúde de Inglaterra revelou que “45% dos infectados com Covid-19 precisam de assistência a longo prazo”
Os efeitos desproporcionais do vírus
Elaine Maxwell afirmou que, antes de realizar a pesquisa, tinha assumido que os pacientes que contraíram casos mais grave de Covid-19 seriam os mais afetados pelos efeitos de longa duração da doença. No entanto, o estudo veio contrariar as suas crenças. “Agora sabemos que há pessoas sem qualquer registo de terem contraído Covid-19 que estão a sofrer mais do que pacientes que estiveram várias semanas a serem assistidos por um ventilador”, afirmou a médica.
No seu relatório, Maxwell acrescentou que a Covid-19 tem um impacto desproporcional em certas partes da população, nomeadamente nos residentes de lares da terceira idade. A médica também alterou para os efeitos nas “comunidades asiáticas e negras com taxas de mortalidade mais elevadas, assim como outras minorias com desvantagens sociais”.
O estudo termina com um apelo: os efeitos de longa duração da Covid-19 têm de ser mais investigados pela comunidade científica. Caso contrário, os pacientes infectados com a “Covid-19 de longa duração” poderão sofrer “impactos psicológicos e sociais” a longo prazo, com sérias consequências para os mesmos.