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Como direita e esquerda se uniram para tirar Netanyahu do poder em Israel

Postado às 05h23 | 03 Jun 2021

Guga Chacra

O mérito para a construção de uma coalizão que parece próxima de alcançar o objetivo de colocar um fim aos 12 anos de administração de Benjamin Netanyahu em Israel é de um político centrista chamado Yair Lapid. Seria uma espécie de versão israelense do presidente francês Emmanuel Macron, mas com uma diferença. Dentro de um complexo e fragmentado sistema político, o líder do partido Yesh Atid conseguiu englobar na sua coalizão partidos da direita à esquerda, além de uma agremiação árabe-israelense de viés islamita. Além disso, optou por não ser o primeiro-ministro.

Chega a ser quase uma mágica o que Lapid conseguiu, encaixando todas as peças. A coalizão terá a participação do nacionalista Avigdor Lieberman, do Nossa Casa Israel (Yisrael Beitenu), com uma base eleitoral de judeus oriundos da ex-URSS; o dissidente do Likud Gideon Sa’ar, do Nova Esperança; o ultradireitista Naftali Bennett, do Yamina; Benny Gantz, do Azul e Branco, de centro-direita; os Trabalhistas, de centro-esquerda; o Meretz, de esquerda; e o partido Ra’am, de Mansour Abbas, um conservador muçulmano árabe-israelense que rompeu com os outros partidos árabes, de viés mais arabista.

Como Lapid conseguiu esta mágica? Sabia que uma coisa unia todos estes políticos — a aversão a Netanyahu. Nenhum deles aguenta mais ver Bibi, como é conhecido o premier, no comando de Israel. Alguns deles são ideologicamente idênticos a Netanyahu, mas não toleram mais vê-lo como líder, com suas maquinações políticas, suas facadas pelas costas, seu egocentrismo e seus múltiplos escândalos de corrupção.

Mas apenas a oposição a Netanyahu não seria suficiente para formar uma coalizão. Era preciso convencer entusiastas da paz com os palestinos, como os integrantes do partido Meretz, a fazerem parte de um governo que inclui políticos hostis à criação de um Estado palestino. Para atingir este objetivo, Lapid fez concessões a todos em seus temas mais importantes, deixando grandes questões de fora, ao menos neste momento.

A maior cartada de Lapid, no entanto, foi abdicar do cargo de premier, que em teoria seria dele, por ser o líder com maior número de cadeiras na coalizão (17), além de representar o centro da política israelense. Ele tampouco permitiu que políticos fortes como Liberman e Sa’ar seja ocupem o cargo. Optou por indicar Bennett, que, em teoria, governará pelos dois primeiros anos, sendo posteriormente substituído pelo próprio Lapid.

O acordo com Bennett pode parecer uma contradição, já que Bennett está à direita de Netanyahu, sendo abertamente contra a criação de um Estado palestino, além de ter feito lobby a favor dos assentamentos na Cisjordânia.

A questão é que Bennett não terá como implementar suas políticas antipalestinas em um governo tão diverso. Esbarrará não apenas na esquerda, como no centro e também nos árabes. Tende a se queimar. Lapid também sabe que este governo será instável e o único objetivo é acabar com Netanyahu. Inevitavelmente, no futuro, os atuais aliados serão adversários em uma eleição — se possível, com Bibi atrás das grades. Vamos ver se dará certo. Lapid foi genial, mas Netanyahu, um dos maiores gênios políticos do mundo, ainda está solto.

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