Postado às 05h52 | 05 Abr 2020
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu hoje a velocidade e o impacto das medidas que têm sido adotadas pela autoridade monetária para combater os efeitos da crise provocada pela epidemia do coronavírus na economia brasileira.
Em transmissão ao vivo realizada pela XP na noite deste sábado (04), Campos Neto afirmou que o Banco Central se antecipou aos efeitos da pandemia, adotando uma série de medidas de liquidez, crédito e capital, e que ainda conta com um arsenal para adotar mais iniciativas, se necessário.
“O sistema financeiro brasileiro está sólido, provisionado e líquido, e temos instrumento para que isso se mantenha independente da gravidade da crise”, afirmou.
Ainda que tenha apontado que o Brasil seja um dos países mais impactados neste novo cenário, Campos Neto ressaltou o potencial total de R$ 1,2 trilhão das medidas de liberação de liquidez, equivalentes a 16,7% do PIB.
O montante estaria muito acima da média dos outros bancos centrais do mundo, e bem superior ao que foi adotado no Brasil na última crise, de 2008. Naquela ocasião, as medidas tiveram um alcance de R$ 117 bilhões, ou 3,5% do PIB.
Campos Neto rebateu críticas de que o Brasil estaria atrasado em relação aos demais países na condução econômica da crise, ressaltando que medidas de liquidez têm efeitos mais imediatos na economia que de capital e fiscal.
“Estamos num estado de guerra, estamos aprendendo ainda, então pediria paciência. Acho que é um momento de união”, observou.
“É muito importante a coordenação do governo federal, dos estados e dos municípios. Acho que gera muito ruído essa falta de coordenação. É muito importante as pessoas esquecerem a diferença, esquecerem o momento individual, e pensarem no momento coletivo.”
Campos Neto mostrou ainda que existe uma grande preocupação com quebra de contratos, em meio a dificuldades enfrentadas por grande parcela das empresas brasileiras, e pediu uma ação conjunta das companhias, em benefício do sistema.
“É importante entender que é muito saudável para a economia e, se tivermos que imaginar o efeito colateral, preferimos ter até um fiscal pior para colocar dinheiro nas mãos das pessoas, para que elas possam honrar os contratos”, afirmou. “Se entrarmos num regime de quebra de contatos, será muito danoso para a economia brasileira no médio e longo prazo.”
Se a situação for levada ao limite, poderia provocar inclusive um colapso no sistema, disse o presidente do Banco Central.
Em relação à desvalorização cambial, Campos Neto lembrou que o câmbio é flutuante e que o Banco Central poderá atuar de forma mais expressiva, se julgar necessário.
“Se entendermos que existe alguma disfuncionalidade, poderemos vender mais e até muito mais. Temos 20% do PIB em reservas e é bastante”, afirmou, ressaltando que, dado o desconhecimento sobre a extensão da crise, é importante atuar com parcimônia.
A live deste sábado chegou a ter a participação de mais de 6 mil pessoas e contou com perguntas de Guilherme Benchimol, CEO do grupo XP, Rafael Furnaletti, diretor institucional da XP, e Marcos Ross, economista-sênior da XP.