Postado às 05h09 | 19 Mai 2021
A cada dia que se aproxima a eleição geral de 2022 desenha-se o confronto dos extremistas de direita e de esquerda.
O filósofo Norberto Bobbio assemelha esquerda e direita a uma ferradura, em cuja curvatura de ferro as pontas se juntam.
Nos confrontos políticos, os “extremos ideológicos” aproximam-se e defendem ideias comuns, como autoritarismo, culto ao Estado, protecionismo e isolacionismo
A polarização entre direita e esquerda vem do final da II Guerra Mundial.
A “terceira via” teve origem com o primeiro-ministro britânico Tony Blair ao reunir em Dublin (1980) personalidades políticas para discutir esse novo modelo, com o propósito de transformar-se em opção entre esquerda e direita.
Entretanto, teve vida curta e perdeu força.
Em meados da década de 90, com o advento da globalização, o neoliberalismo tornou-se a doutrina ideológica hegemônica, através do Consenso de Washington, patrocinado pelas principais agências econômicas mundiais.
Nos últimos 20 anos ocorreram acontecimentos globais, como fracasso das reformas neoliberais, o 11 de setembro, a crise financeira internacional de 2008, a pandemia e o crescimento dos extremismos políticos em diversos continentes.
No Brasil, vivemos cerca de duas décadas de polarização entre o PT e o PSDB, sem jamais ter ocorrido a intensidade do confronto atual, com Bolsonaro e Lula se digladiando, em céu aberto.
Inegavelmente, os dois são os mais fortes candidatos no momento e já se escolheram como adversários, por acharem que radicalizar é a melhor forma de ganhar a eleição.
Enquanto isso, o futuro traz o desafio da reconstrução do país, no após pandemia, com sinais de grandes mudanças nas funções prioritárias do Estado,
Quando se fala em terceira via, argumenta-se não existir mais tempo.
Lembro a máxima de Marco Maciel: “havendo prazo, há tempo”.
A dificuldade é a pulverização de nomes, que viabilize uma candidatura única, deixando de lado o estilo belicoso dos insultos e ataques pessoais e convocando à Nação ao “diálogo”, onde todos se sentem à mesa, a exemplo do que fizeram no passado Espanha, Chile, Portugal, Colômbia, Polônia e outros países.
A tarefa de punir os desvios e crimes porventura praticados é competência do STF, MP e PF.
O que interessa para 2022 resume-se na reconstrução do país na urna. Se alguma penalidade política tiver de ser aplicada, será dever do cidadão, na hora da escolha livre.
Hoje, Lula e Bolsonaro dizem o que o povo quer ouvir.
A terceira via, para tornar-se competitiva, teria que colocar em debate “projeto nacional”, em linguagem acessível à população, capaz de transmitir credibilidade e fazer com que o Brasil volte a acreditar em si próprio.
A visão política do nome indicado é pré-requisito para o sucesso, independente da atvidade, ou profissão que exerça.
Sem a política, não haverá solução e as consequências serão as portas abertas para populistas, oportunistas e pregações autoritárias.
A história brasileira tem precedente, que encoraja a hipótese da Terceira Via.
Em 1994, as eleições tinham como objetivo consolidar o processo de renovação institucional, com base na democracia representativa.
O candidato favorito era Luís Inácio da Silva, que vinha fortalecido com o segundo lugar nas eleições de 1989.
Surgiu na reta final, o senador FHC, que viera de derrota para prefeito de SP. Ele trouxe consigo o “projeto nacional” do Plano real, como alternativa de recuperar a economia. Ganhou no primeiro turno.
O exemplo mostra, que ideias consistentes e nome competitivo, derrotam extremismos.
Não se pode negar as diferenças políticas entre 1994 e 2022.
Hoje, o país está dividido em grupos fanatizados, que não raciocinam e agem por impulso.
Antes, era o favoritismo de Lula.
Hoje, há descrença com a classe política.
Antes, o desejo era volta à democracia.
Hoje, verifica-se deserto de líderes.
Antes, a disputa envolveu nomes expressivos de Leonel Brizola, o ex-governador de SP, Orestes Quércia e o senador, Espiridião Amim.
Encontrar em 2022 o caminho da terceira via não será fácil.
Mas, não é impossível.
Em tempo: arrisco palpite: Tasso Jereissati, Rodrigo Pacheco ou Sérgio Moro.
O critério teria que ser a competência de governar o Brasil e acreditar no julgamento direto do eleitor.
A "cabeça do eleitor" está mudando e a credibilidade do candidato vale mais do que a sua tradição de liderança, ou peso político-eleitoral.
Bom relembrar que FHC elegeu-se Presidente em 1994, sem nunca ter ganho uma eleição, exerceu o Senado como suplente e perdeu para prefeito de SP.
Caso não se concretize a tentativa de nova alternativa para 2022, a solução será optar por nomes indicados pelas coligações.
Fatalmente, na liderança estarão Bolsonaro e Lula.