Postado às 15h41 | 18 Jun 2020
A prisão de Fabrício Queiroz colocou o presidente da República em uma sinuca de bico. Agora, Jair Bolsonaro estuda se dará, ou não, uma resposta pública à Justiça. Bolsonaro disse a aliados que haveria um movimento do Judiciário para provocar um clima político e derrubá-lo.
Para o presidente, não é possível dissociar à prisão de Queiroz e a quebra de sigilo bancário de deputados bolsonaristas supostamente envolvidos com as manifestações antidemocráticas, mesmo que se tratem de casos diferentes com foros diferentes — um com a Justiça do Rio de Janeiro e outro com o Supremo Tribunal Federal (STF). Cabe lembrar, ainda, que, no caso de Queiroz, o processo é contra Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e não contra Jair Bolsonaro.
O presidente se reuniu com os ministros militares do governo para decidir o que fazer contra o que teria chamado de "cerco jurídico ao governo". Além dos integrantes das Forças Armadas que integram o Executivo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, também participou das conversas. As possibilidades debatidas são uma reação forte, com críticas duras ao Judiciário, ou o silêncio, na tentativa de se afastar de Queiroz.
O ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência e subchefe de Assuntos Jurídicos, e assessores do gabinete também participaram da conversa, segundo integrantes do governo. O Estadão apurou que Flávio Bolsonaro voltou o Rio com a família na manhã desta quarta-feira.
O problema é que disparar uma crítica ao Judiciário deverá atrelar Bolsonaro ao ex-assessor do filho e amigo da família. Sobre a segunda hipótese, um deputado que conversou com o Correio afirmou que é difícil promover esse afastamento, devido a proximidade do presidente com o advogado Frederick Wassef, que estava escondendo Queiroz em uma propriedade em Atibaia (SP).
Quanto ao advogado, este, com frequência, participa de solenidades no Planalto. Incluindo a posse do ministro das comunicações, Fábio Faria nesta quarta (17/6). A Polícia Civil paulista prendeu Queiroz em uma propriedade do defensor durante a Operação Anjo, na manhã desta quinta (18/6). As conversas do presidente com aliados foram reveladas pelo jornal Folha de São Paulo.
Wassef é visto com desconfiança pelos assessores mais próximos de Bolsonaro. O presidente chegou a ser aconselhado a dispensá-lo, mas o modo como agiu justamente no caso Queiroz o garantiu por perto, contam pessoas próximas ao presidente.
O principal momento foi quando Wassef conseguiu suspender no Supremo Tribunal Federal (STF), através de decisão do ministro Dias Toffoli, suspender todas as investigações feitas com base no compartilhamento de dados bancários sem autorização judicial, atendendo ao pedido da defesa de Flávio Bolsonaro.
A atuação de Wassef também levanta a suspeita sobre uma possível troca de informações entre investigados, o que pode representar tentativa de obstrução de Justiça. Em entrevistas, o senador também já afirmou não saber o paradeiro do ex-assessor e chegou a alertar que não mantinha mais contato com Queiroz justamente para que não fosse interpretado como crime.
Mais cedo, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada sem falar com apoiadores. Normalmente, o presidente para por alguns minutos em frente à residência oficial para conversar com as pessoas que o aguardam na entrada da residência oficial, o que não ocorreu na manhã desta quinta-feira (18/6).