Postado às 05h01 | 27 Set 2020
Elio Gaspari
A popularidade do capitão, o surgimento de Celso Russomanno nas pesquisas paulistanas e a promessa de Paulo Guedes de elevar a isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física, beneficiando 15 milhões de pessoas, deveriam levar a oposição a pensar na vida.
O que mais se ouve é que esse mar de rosas acabará quando o auxílio emergencial for suspenso. Pode ser.
Não custa repetir uma lição do mestre Marco Maciel, quando um marqueteiro lhe disse que segundo as pesquisas o candidato adversário estava em queda e o dele, em ascensão: “Ainda assim, o senhor acha que a intersecção dessas duas retas ocorrerá antes ou depois da eleição?”.
As guildas dos procuradores precisam controlar a sede da corporação.
Numa festa catarinense os doutores conseguiram uma equiparação que colocou a prêmio os mandatos do governador Carlos Moisés e de sua vice.
A Advocacia-Geral da União promoveu 606 doutores com um golpe de caneta e foi obrigada a esquecer o assunto diante da grita.
Apareceu mais um juiz terrivelmente evangélico na fila do guichê para a indicação do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal. É o juiz William Douglas dos Santos.
Numa trapaça da História, William Douglas (1898-1980) foi um desassombrado juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos. Comprou todas as brigas em defesa da liberdade e ainda por cima defendia o meio ambiente numa época em que pouco se falava disso. Certa vez, encarou uma trilha de 3.000 quilômetros.
Aguentou-se na Corte tendo-se se metido com um dono de cassinos. Pediu para sair quando, depois de um acidente vascular, estava trocando as bolas.
Outro dia o vice-presidente Hamilton Mourão lembrou mais uma vez que os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil.
Mourão tem gosto pela História e faltam menos de dois anos para o bicentenário do Grito do Ipiranga. Talvez tenha chegado a hora de se esclarecer esse mito. Em 2017, num estudo publicado pelos Cadernos do Centro de História e Documentação Diplomática, Rodrigo Wiese Randig mostrou que o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foi a Argentina, que à época atendia pelo nome de Províncias Unidas do Rio da Prata.
A Argentina reconheceu o Império do Brasil no dia 25 de junho de 1823 e, em agosto, seu representante apresentou suas credenciais ao chanceler brasileiro. Os Estados Unidos só reconheceram o Brasil um ano depois, e o embaixador José Silvestre Rebelo entregou suas credenciais ao presidente James Monroe no dia 26 de maio de 1824.
O governo tem feito pouco, quase nada, para comemorar o bicentenário da Independência. Arrisca atolar numa patriotada estéril, como aconteceu em 1972, no sesquicentenário, quando a ditadura passeou os ossos de dom Pedro 1º pelo país até colocá-los numa cripta nos jardins do Museu do Ipiranga. Anos depois ela virou mictório.
Dois meses depois da entrega de credenciais pelo embaixador brasileiro a James Monroe, dom Pedro 1º recebeu o embaixador do reino africano do Benim na Quinta da Boa Vista. O Benim estava mais para entreposto de escravizados do que para reino.
Nelson Rodrigues já ensinou que toda unanimidade é burra.
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro decidiu por unanimidade avançar com o processo de impedimento do governador Wilson Witzel. A unanimidade pode também ser esperta, muito esperta.
Até um idiota como Eremildo pode entender que o Ministério da Educação nada tem a ver com o reinício das aulas.
Néscio, ele não sabe explicar se o doutor Milton Ribeiro também acha que seu ministério não tem nada a ver com o escalafobético edital do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação que, há mais de um ano, tentou torrar R$ 3 bilhões numa licitação viciada para a compra de equipamentos eletrônicos.
A Controladoria-Geral da União travou o jabuti, mas até hoje não se sabe de onde ele saiu.