Postado às 06h22 | 30 Abr 2020
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), publicou, na noite desta quarta-feira, em seu Facebook, uma lista de supostas “diretrizes para políticas educacionais” da Organização Mundial da Saúde (OMS) em que aparecem recomendações sobre masturbação e relações homossexuais para crianças de 0 a 6 anos.
A publicação, que não cita a fonte dos supostos dados, ficou poucos minutos na rede social de Bolsonaro e, em seguida, foi apagada. Veja abaixo o que dizia o post do presidente:
“Essa é a OMS que muitos dizem que devo seguir no caso do coronavírus. Deveríamos então seguir também suas diretrizes para políticas educacionais?Para crianças de 0 a 4 anos de idade:- satisfação e prazer ao tocar o próprio corpo *masturbação*- expressar suas necessidades e desejos, por exemplo, no contexto de *brincar de médico*- as crianças têm sentimentos sexuais mesmo na primeira infância.
Para crianças de 4 a 6 anos de idade:- uma identidade de gênero positiva;- gozo e prazer ao tocar o próprio corpo;- masturbação na primeira infância;- relações entre pessoas do mesmo sexo.
Para crianças de 9 a 12 anos:- primeira experiência sexual.”
Desde o início da pandemia de COVID-19, Bolsonaro – contrário ao isolamento social recomendado pelos órgãos de saúde – tem distribuído ataques a prefeitos, governadores, deputados e ministros que defendem a quarentena. Também tem lançado ofensivas direcionadas à OMS.
Na semana passada, durante uma live também pelo Facebook, Bolsonaro desdenhou das orientações da Organização Mundial de Saúde, usando o argumento de que o presidente da entidade não é médico. O etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, é biólogo, com mestrado em Imunologia e Doenças Infecciosas (Universidade de Londres) e doutorado em Filosofia e Saúde Comunitária (Universidade de Nottingham, Reino Unido). Foi ministro da Saúde e das Relações Exteriores da Etiópia, presidente do Conselho Executivo da União Africana, presidente do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, além de acumular outras diversas experiências ligadas à área da saúde.
No dia 31 de março, Bolsonaro distorceu uma declaração do diretor da OMS sobre a volta ao trabalho de trabalhadores informais. Naquela ocasião, Bolsonaro disse que o chefe da OMS estaria “associado” ao seu posicionamento sobre o fim da quarentena.
Entretanto, Bolsonaro omitiu o trecho em que o diretor da entidade explica que é preciso que os governos dos países garantam assistência às pessoas que ficaram sem renda durante o isolamento recomendado pela própria OMS.
Após a polêmica, Tedros Adhanom se manifestou pelo Twitter, reforçando a afirmação de que as pessoas devem seguir em isolamento e que aqueles que ficarem sem rendimentos sejam assistidos por políticas sociais governamentais.Publicações sem checagemOs posts sem checagem de veracidade e sem citação de fonte são frequentes nas redes sociais do presidente. No início do mês, ele admitiu que ‘mordeu a isca’ ao compartilhar no Twitter um vídeo com informações falsas sobre o desabastecimento na Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa). Depois de também apagar o vídeo, Bolsonaro se desculpou pelo ocorrido.
“Fui eu quem publiquei. Já me desculpei. Isso acontece”, disse o presidente em entrevista à Rádio Jovem Pan, no dia 2 de abril.
Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro foi obrigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a remover seis postagens de suas redes sociais em que fazia críticas ao livro Aparelho Sexual e Cia. O então candidato afirmava que a obra integraria material do projeto ‘Escola sem Homofobia’, chamado pelos críticos de ‘kit gay’, que, segundo ele seria distribuído em escolas públicas na época em que Fernando Haddad (PT), também candidato à Presidência, comandava o Ministério da Educação.
À época, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que não produziu nem adquiriu o referido livro. Aparelho Sexual e Cia., na realidade, é um livro escrito pela francesa Hélène Bruller e publicado em dez idiomas.
Segundo o serviço de checagem de fatos da Agência Pública, o material do ‘Escola sem Homofobia’ – composto por um caderno e peças impressas e audiovisuais – não foi criado por Haddad, e sim encomendado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ao MEC e elaborado por um grupo de ONGs especializadas, em conformidade com as diretrizes de um programa do governo federal lançado anteriormente, em 2004.