Postado às 07h08 | 06 Fev 2022
Bruno Boghossian
Jair Bolsonaro perdeu quatro de cada dez eleitores que votaram nele no primeiro turno de 2018. Números do Datafolha desenham um mapa das deserções que ocorreram desde então, traçam os movimentos dos principais grupos demográficos e exibem algumas pistas sobre as chances de recuperação do presidente.
O esvaziamento de Bolsonaro se deu com intensidade em dois segmentos que haviam impulsionado sua candidatura na última campanha: o Sudeste, região mais populosa do país, e o eleitorado com ensino superior. Os índices do presidente nesses grupos caíram quase à metade nos últimos anos.
Há um ponto de partida duplo para esse derretimento. O humor de eleitores mais escolarizados e das grandes cidades do Sudeste virou na primeira metade de 2020, na fase em que Bolsonaro expôs seu negacionismo diante da pandemia e Sergio Moro deixou o governo.
O ex-juiz capturou parte desses votos. Atualmente, ele marca percentuais acima da média entre eleitores com curso superior (13%) e no Sudeste (12%). O alinhamento a Moro sugere que parte desses segmentos continua no mesmo campo político e pode retornar para Bolsonaro caso ele permaneça como o nome mais viável da direita até o dia da votação.
Outra parcela de eleitores desses grupos aderiu à candidatura de Lula. O petista registra nesses setores um crescimento significativo em relação ao desempenho de Fernando Haddad no primeiro turno de 2018.
Os números favorecem o ex-presidente porque esses segmentos foram marcados pelo antipetismo na última campanha. Hoje, no Sudeste, Lula aparece com 43% das intenções de voto –perto da melhor marca do PT na região em pesquisas às vésperas do primeiro turno (45% em 2002).
Uma variação interessante também é vista entre os jovens. Bolsonaro teve sua maior queda proporcional na faixa de 16 a 24 anos –grupo em que Lula tem seu melhor desempenho. Nenhum desses eleitores podia votar quando o petista venceu as disputas de 2002 e 2006.