Postado às 04h36 | 26 Mai 2020
Guga Chacra
Jair Bolsonaro, desde o início de seu mandato, fez o possível para se aproximar de Donald Trump. Até conseguiu alguns encontros. Afinal, o presidente dos EUA simpatizou com aquele fã da América Latina. O atual ocupante da Casa Branca percebeu que poderia extrair vantagens do presidente do Brasil, uma gigantesca economia, tamanho o esforço do líder brasileiro para se enturmar. Além disso, poderia ajudar a reduzir sua imagem de preconceituoso com latino-americanos
Neste domingo, todo o empenho de Bolsonaro de tornar o Brasil mais próximo dos EUA, ou mais especificamente de Trump, naufragou. Não adiantou nem copiar o ídolo americano ao celebrar a cloroquina. Desde os tempos anteriores à aviação, quando a viagem era de navio, os brasileiros demorarão tanto para chegar a Miami ou Nova York, a não ser que possuam residência permanente ou dupla cidadania, além de algumas raras exceções.
Serão necessários 14 dias de quarentena fora do território brasileiro para ingressar no território americano. Sabe-se lá quantas escalas serão necessárias, incluindo alguma que permita ao viajante vindo do Brasil passar duas semanas. Creio que a Islândia possa ser uma alternativa.
Não estou de gozação. Argentinos, paraguaios, uruguaios, chilenos e bolivianos poderão vir aos EUA normalmente. Suas nações não estão incluídas na lista de proibição. O Brasil está porque, assim como alguns países europeus, se tornou um epicentro da pandemia. Talvez até sirva de consolo estar no patamar das nações da Europa Ocidental. Mas, convenhamos, não é por um motivo positivo. Simplesmente, o governo brasileiro se tornou um pária pandêmico, como escrevi aqui outro dia. E já era pária ambiental. Claro, poderão argumentar que os EUA são o maior epicentro. E são.
Chega a ser irônico ver Trump tão preocupado com alguns poucos brasileiros que ainda viajam para cá, sendo na maior partes das vezes por questões profissionais ou pessoais. Mas Trump sempre colocou a “América em primeiro lugar”. América, claro, como Estados Unidos da América. Bolsonaro deveria saber que isso não inclui o Brasil. Por mais que o presidente brasileiro se esforce para adular o dos EUA, sempre será visto como mais um líder da América Latina por Trump.
Pior, um líder de uma nação latino-americana que, na visão de Trump, pode agravar a epidemia de Covid19 no país. Diferente do México. Apesar de Trump querer construir um muro separando os dois países, mexicanos com vistos podem embarcar em um avião e viajar algumas horas até os EUA sem problemas. Brasileiros, não. Tudo porque Bolsonaro foi o mais incompetente líder latino-americano no combate o Covid19. Seu negacionismo anticiência fez com que os brasileiros ficassem isolados.