Postado às 10h47 | 17 Nov 2020
No dia seguinte à eleição em seus aliados tiveram desempenho pífio, o presidente Jair Bolsonaro colocou em xeque, mais uma vez, a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. A apoiadores, ele voltou a citar o uso do voto impresso ao justificar que é preciso um sistema que "não deixe dúvidas" ou "margem para suposições".
Mais cedo, o vice-presidente Hamilton Mourão, em mais uma declaração que vai de encontro ao discurso de Bolsonaro, afirmou que o processo eleitoral brasileiro é "muito bom, sem dúvida nenhuma".
Em setembro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é inconstitucional a adoção do voto impresso, ao concluir que a medida viola o sigilo e a liberdade do voto. Ainda assim, Bolsonaro insiste na tese de que a votação eletrônica é passível de fraude, o que é descartado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem de ser confiável e rápido, não deixar margem para suposições", disse o presidente a apoiadores em frente ao Palácio do Alvorada.
Na sequência, Bolsonaro mencionou desconhecer se outros países no mundo usam o sistema eleitoral brasileiro, apurado por meio de urna eletrônica. Ao todo, contando com o Brasil, 46 países utilizam algum tipo de votação eletrônica em eleições, considerando pleitos de caráter nacional, regional, ou para escolha de dirigentes sindicais.
"Tenho proposta, tive né? O Supremo (Tribunal Federal) disse que é inconstitucional o voto impresso. (Mas) tem proposta de emendar a Constituição na Câmara. Se não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições a dúvida sempre vai permanecer e nós devemos atender a população", disse.
O presidente disse que a demanda por mudanças no sistema eleitoral do País vem do "povo". "Muita gente fala, alguns falam, sem ouvir o povo, sem sair de seus gabinetes. No meu caso, estou sempre ouvindo a população. Eles querem um sistema de apuração que possa demorar um pouco mais, não tem problema nenhum, mas que seja garantido que o voto que essa pessoa deu vá para aquela pessoa realmente de fato."
Bolsonaro questionou a lisura até da votação em que foi eleito. Em março, ele afirmou que "brevemente" apresentaria provas de que houve uma "fraude" nas eleições de 2018, mas até agora não mostrou nenhuma evidência do que disse.
Nas eleições deste ano, houve lentidão na apuração de votos logo após o fim do pleito causada por um problema em processadores de um computador, segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso. De acordo com o TSE, tradicionalmente a totalização de 100% dos votos só é concluída na segunda-feira seguinte à votação, com a contagem de votos de locais de difícil acesso.
Apesar da demora, Barroso tentou afastar as suspeitas sobre a possibilidade de se fraudar os resultados. Segundo ele, não é possível que haja fraude porque os resultados em cada urna são impressos em um boletim, ao final da votação, afixados na seção eleitoral e distribuídos aos partidos.
Mourão
Na semana passada, Bolsonaro já havia dito, sem provas, que o sistema de votação no Brasil não era "sólido" e que era "passível de fraude". Em declarações anteriores, Bolsonaro tem defendido o retorno do voto impresso para o pleito de 2022, quando pretende concorrer à reeleição.
Os resultados destas eleições municipais apontaram que poucos candidatos apoiados pelo presidente foram eleitos ou chegaram ao segundo turno. Dos 45 candidatos a vereador que o presidente pediu votos em transmissões ao vivo nas suas redes sociais - apelidado por ele mesmo como "horário eleitoral gratuito" - apenas sete foram eleitos anteontem.
Entre os candidatos a prefeito, Celso Russomanno, do Republicanos, ficou em quarto lugar e não chegou ao segundo turno em São Paulo. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, do Republicanos, teve Bolsonaro ao seu lado e está na corrida do segundo turno na tentativa de reeleição.
Entre os prefeitos que tentam um novo mandato, além de Crivella, apenas outro nome apoiado por Bolsonaro passou para o segundo turno, o Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza (CE). Em Porto Alegre (RS), apesar de não ter candidato, Bolsonaro tem criticado o apoio dado a Manuela D'Ávila, do PCdoB, que disputará o segundo turno.