Postado às 06h01 | 03 Abr 2020
Denise Rothenburg
O fato de o presidente Jair Bolsonaro ter recebido o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra e médicos para ouvi-los sobre cloroquina fez crescer as apostas sobre uma possível troca de comando no Ministério da Saúde. Entre os políticos, não resta dúvidas de que o presidente, dia após dia, desautoriza o ministro Luiz Henrique Mandetta. A visão de aliados mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, porém, é a de que o ministro é quem tem desautorizado o presidente, que pensa diferente do ministro. Bolsonaro, embora não pense como o ministro, não o substitui porque teme que isso termine por lhe corroer ainda mais a popularidade, em caso de agravamento da crise.
Agora, entretanto, está na fase de usar argumentos técnicos para tentar respaldar suas posições e levar à tradicional lie das quintas-feiras no Alvorada.
Ainda que tenha receio de trocar o ministro, Bolsonaro tem dobrado sua aposta no fim do isolamento social e sempre que pode faz questão de deixar claro que não compartilha da visão de Mandetta. É o que lhe resta, uma vez que uma demissão do ministro arrisca dinamitar a ponte que o ministro tem feito entre o governo federal e os estados.
Há uma avaliação dentro do governo que alguém com um perfil automaticamente alinhado com o que pensa o presidente teria dificuldades em manter esse trabalho que já está em curso com os governos estaduais, que optaram pelo isolamento horizontal.
Bolsonaro não vai parar de colocar a sua posição. Terra foi chamado ao Palácio porque o presidente queria ouvir a posição dele sobre epidemias, que é idêntica à do presidente, e já foi detalhada em entrevista ao CB.Poder na semana passada. Segundo relatos, o deputado repetiu ao presidente sua posição contrária ao isolamento horizontal, citou sua experiência com a epidemia de H1N1, no Rio Grande do Sul, quando era secretário de Saúde.
A comparação entre as duas epidemias não é considerada válida por muitos estudiosos e não tem sido seguida por países da Europa, porque a velocidade de propagação dos vírus é diferente. Numa de suas coletivas, Mandetta inclusive mencionou que quem seguisse a receita de combate ao H1N1 para o coronavírus iria errar.
Mandetta é no momento o ministro mais popular do presidente Jair Bolsonaro. Sua capacidade de diálogo, de ação, de coordenação de equipe e seu semblante de cansaço por noites mal-dormidas são, segundo pesquisas, a percepção do trabalho do governo federal em prol da combate ao coronavírus. Perder esse ativo pode ser um erro e levar outros a rufar panelas em caso da agravamento da crise. Resta saber se Bolsonaro vai pagar para ver ou deixar passar essas rodada.