Postado às 15h43 | 28 Set 2021
Dois anos e 11 meses. Esse é o tempo transcorrido desde a última vez que o barril de petróleo bruto do tipo Brent superou pela última vez o limite dos 80 dólares (cerca de 430 reais, por um volume de quase 160 litros). Nesta terça-feira, a principal referência petroleira na Europa ultrapassou novamente essa barreira, puxada pela recuperação econômica pós-pandemia, pelas crescentes dúvidas sobre a capacidade de alimentar o suficiente apetite global com a atual oferta ― artificialmente limitada pela OPEP, organização que reúne alguns dos principais produtores ― e pela conclusão de que as reservas existentes são menores do que se estimava. Para trás, bem longe, ficam aqueles dias de abril do ano passado quando a expansão da covid-19 mundo afora obrigava inúmeros investidores a pagarem para se desfazer dos barris que tinham em carteira e aos quais não conseguiam dar saída.
Desde o começo de 2021, o preço do barril tipo Brent acumula uma alta superior a 50%, cifra às quais é preciso somar as altas registradas já na etapa final do ano passado, quando a incipiente recuperação e as notícias positivas sobre a vacina já tinham começado a aquecer os mercados de matérias-primas. Mas nestas últimas semanas dois novos fatores se somaram ao perigoso coquetel que é para o Ocidente o encarecimento da energia ― mais inflação e uma mordida no poder de compra dos consumidores: a crescente demanda da China e da Ásia em geral, e uma crescente preocupação com a possibilidade de desabastecimento de combustíveis no Reino Unido, que fez os alarmes soarem e desatou a formação de estoques motivados pelo pânico. Um ponto a mais de desequilíbrio em um mercado já por si só descompensado.
Apesar da alta acumulada, praticamente ninguém no mercado se atreve a dar a escalada por concluída. O último grande nome a elevar suas expectativas para o petróleo bruto foi o gigante norte-americano do investimento Goldman Sachs, que já aponta para os 90 dólares por barril como próxima meta em um horizonte nada longínquo, o final deste ano. “Embora nossa visão sobre o petróleo sempre tenha sido de alta, o desequilíbrio atual entre a oferta e a demanda é maior do que tínhamos previsto”, escrevem seus analistas em um relatório publicado nesta segunda-feira, horas antes de o Brent superar a cota dos 80 dólares. “O repique vai continuar”, referenda à AFP John Driscollo, da consultoria JTD Energy Services. “Não vejo sinal de que tenha tocado o teto.”