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Ascânio Seleme: Teich ficou devendo e mostrou que quer agradar ao presidente

Postado às 04h48 | 17 Abr 2020

Embora pareça cedo para tirar conclusões sobre o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, o seu discurso de apresentação ao lado de Jair Bolsonaro não deixa qualquer dúvida. Ele chegou disposto a agradar o presidente. Não significa que vai fazer exatamente o que quer seu chefe, mas com certeza vai buscar caminhos e atalhos para atender sempre que possível a demanda que lhe for apresentada. A primeira delas, o combate ao isolamento, já foi explicitada. Numa linguagem que pode até parecer técnica, o discurso de que saúde e economia não podem andar separadamente era tudo o que Bolsonaro queria ouvir.

Essa abordagem, de resto óbvia, já havia sido apresentada na reunião de Teich com Bolsonaro e oito ministros antes da sua apresentação. E agradou tanto que o presidente a reproduziu na sua fala, antes do próprio ministro reafirmá-la publicamente. A observação de que saúde e economia andam juntas é platitude, é trivial, e não deveria ser apresentada. E se foi, como vimos, tinha um só objetivo, embasar e sustentar o discurso da volta ao trabalho de Bolsonaro.

Teich disse que não haverá mudança brusca ou radical na política de isolamento social. O que para alguns pode ter significado um alívio, para mim soou o contrário. Significou que vai haver mudanças, embora não de maneira repentina. Pode ser que o novo ministro receba um bom banho de realidade dentro do Ministério, mas seu discurso de apresentação mostrou que se trata de um homem adepto a teses. O problema é que teses podem sofrer mudanças e acréscimos ao longo do percurso.

O novo ministro tem personalidade. Sugeriu que as decisões do Ministério da Saúde sob Mandetta eram tomadas com base na emoção, o que não leva a nada por serem ineficientes, segundo ele. Disse que é necessário ter muita informação para se tomar a decisão correta, como se o seu antecessor não tenha baseado seu processo decisório em informações ao longo da sua gestão da crise. No mínimo, Teich foi deselegante com Mandetta. Na verdade, queria mostrar força.

Meio confuso na retórica, o novo ministro falou que vai trabalhar com base na técnica e na ciência. Mas acrescentou que vai “disponibilizar o que existe hoje em termos de vacina e medicamento dentro de coisas que funcionem como projeto de pesquisa”. Não sei bem o que ele quis dizer com isso, mas com com certeza sabemos todos que hoje não existem remédios ou vacinas para combater a Covid-19.

Vamos ver como o novo ministro andará ao longo dos próximos dias. Ele será testado ao vivo diariamente nas TVs, nas emissoras de rádio, nos sites de jornais e nas redes sociais. O fato de hoje é que a sua apresentação não foi lá essas coisas, Teich ficou devendo. 

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