Postado às 04h58 | 24 Jan 2022
* João Paulo Jales dos Santos. Graduado no curso de Ciências Sociais da UERN.
A negociação de uma aliança entre Fátima Bezerra (PT) e Carlos Eduardo (PDT) já está à mesa, mesmo que Ciro Gomes (PDT) tenha pretensões presidencial. Adversários no pleito de 2018, a petista e o pedetista abrem canais de diálogos para marcharem juntos neste 2022. Há resistências dentro do PT para a formalização de uma coligação com Carlos. O pedetista no 2º turno de 18 aderiu à campanha de Bolsonaro, num palanque onde estavam reunidas as três maiores oligarquias das últimas 4 décadas, Alves, Maia e Rosado. Até a eleição de 2014, com a vitória de Fátima ao Senado, o PT se resumia, no plano estadual, aos mandatos dela e de Fernando Mineiro, que seguiram a orientação petista de abrir espaços políticos, ordenamento levado à cabo quando Lula chegou ao poder em 2002. Com Fátima e Mineiro dominando a cena petista, era fácil fechar acordos com políticos do centro à direita, que até a década de 90 a agremiação não cogitava estar coligada. Exemplo disso foi a candidatura de Fátima à Prefeitura de Natal em 2008, quando Garibaldi Alves, Wilma de Faria e Lavoisier Maia a endossaram naquela disputa.
Se até 2014 o PT basicamente se restringia aos nomes de Fatima e Mineiro, é tanto que quando Fátima troca a disputa da Câmara Federal para o Senado, naquela eleição o PT não elege um nome a deputado federal, a partir de 2016 a legenda começa a passar por um processo de renovação interna, quando amplia sua bancada nas Câmaras Municipais. Dois anos depois, Natália Bonavides se torna um novo nome da sigla em Brasília, sendo a 2ª mais votada à Câmara dos Deputados, e a renovação continuou seu curso na eleição de 2020. A renovação se dá à esquerda, os novos nomes que emergem nas fileiras do partido são progressistas posicionados mais à esquerda do espectro político-ideológico, entendível porque há forte resistência em aceitar Carlos Eduardo sendo o senador de Fátima. Ainda mais tendo o partido um senador para chamar de seu, Jean Paul Prates, qualificado a se candidatar à reeleição.
Fátima Bezerra precisa mesmo abrigar Carlos Eduardo para tentar sua reeleição? Quais os benefícios a Carlos com esta coligação? Tendo em conta que quando confrontados nas pesquisas com maior grau de credibilidade até aqui, o percentual de ambos mais se aproxima do que se distancia do resultado de 2018, o mapa do 2º turno daquele pleito ajuda a nortear o por que que a governadora e o ex-prefeito estreitam laços.
Fátima pintou o RN de vermelho, fazendo com que os municípios vencidos por Carlos Eduardo (em laranja) sejam ilhas ilhadas num mar vermelho. A governadora eleita naquela ocasião estabeleceu dois recordes, venceu em mais de 90% dos municípios, 154, marca não alcançada por nenhuma outra candidatura, e foi a primeira a alcançar a marca de 1 milhão de votos na disputa para o Palácio de Lagoa Nova. Outro detalhe importante na votação, em inúmeros municípios Fátima não teve menos que 60-70% dos votos.
O único senão na vitória petista daquela noite de 28 de outubro, foi a acentuada derrota que sofrera em Natal. Por mais que o vasto interior tenha compensado a derrota na capital, no maior colégio eleitoral, Carlos teve 60,76%, 254199 votos, enquanto Fátima obteve, 39,24%, 164135 votos; a eleita também perdera em Parnamirim, 2º maior colégio da Grande Natal e 3º maior do estado, com percentuais similares ao da capital, Carlos tendo 61,14%, 56369 votos, contra 38,86% de Fátima, 35829 votos. Por mais que geograficamente, Fátima tenha vencido em 12, das 14 cidades da Grande Natal, como a capital concentra mais de 50% dos votantes da região, sua derrota na Região Metropolitana foi a única dentre as regiões do estado.
A petista acabou tendo uma votação menor do que Fernando Haddad na capital, que mesmo tendo sido derrotado, conseguiu obter 47,02% dos votos. A um outro dado a se levar em conta na votação de Natal em 2018, os natalenses se inclinaram 36,72% mais para Carlos Eduardo, do que o eleitorado estadual.
Tabela comparativa da votação estadual com a de Natal |
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Fátima Bezerra |
Carlos Eduardo |
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RN |
Natal |
RN |
Natal |
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57,60% |
39,24% |
42,40% |
60,76% |
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Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do RN. |
Entende-se o quão mútuo há na união entre os adversários de 4 anos atrás, enquanto Carlos Eduardo ajuda Fátima em Natal, o gargalo da governadora na Região Metropolitana, Fátima abre para Carlos o interior, principal déficit eleitoral do pedetista. Nessa aliança a governadora tende a eliminar dois dos maiores empecilhos que tem até o momento. O primeiro, ao tirar Carlos de um embate governamental, suas chances de vencer logo no 1º turno se alargam, o segundo, não querendo ter o gosto de ser derrota novamente em Natal, Fátima tende a vencer com mais facilidade na capital.
O bolsonarismo ainda corteja Carlos Eduardo para ser o candidato do grupo, por mais que estivesse disposto a tanto, Eduardo sabe que além do presidente vir fraco no plano nacional, sua fragilidade no plano estadual se configura sendo ainda maior. Num contexto onde Lula vai recuperando o poderio petista nos grandes centros urbanos, fazendo com que Bolsonaro perca o trunfo que teve nas regiões metropolitanas há 4 anos, até mesmo Natal se torna um ambiente arenoso para Carlos, e como ele mesmo experimentou em 2018, somente a capital não é suficiente numa empreitada ao Governo.
Se em 2018, as elites oligárquicas às custas convenceram Carlos a sair de sua confortável cadeira no Palácio Felipe Camarão, não será agora que o bolsonarismo o convencerá a topar uma candidatura contra uma governante positivamente avaliada. Mesmo que ainda pudesse pensar numa candidatura ao Senado num estilo independente, estando seu nome bem posicionado nas pesquisas, Eduardo parece ter a convicção de que adiante, quando a disputa acirrar, seu nome tende a perder fôlego, já que não contará com nenhuma máquina executiva a seu favor. Melhor então ser o senador de Lula e Fátima, para navegar em águas tranquilas.
Os progressistas à esquerda argumentam do que ao contrário pensam os progressistas moderados, Jean Paul Prates tem força para ir à reeleição. O senador tem ido à campo, visitando os municípios, se encontrando com lideranças, demonstrando que está em jogo, mas até aqui seu nome não decola nas pesquisas. Tem o senador algo a seu favor? Sim, tem pouco conhecimento do eleitorado, o que atrai menos rejeição e facilita para melhorar seu desempenho, e um palanque ao lado de Lula e Fátima; mas há um problema, as executivas do PT nos estados estão sendo orientadas a amarrar as ambições nos planos estaduais a prioridade da eleição de Lula, então tem que ocorrer abertura de espaços nos palanques do PT, isso configura que a reeleição de Jean Paul parece não ter prioridade na executiva nacional. Caso não houvesse necessidade de ter o apoio de Carlos Eduardo no tabuleiro da Região Metropolitana, a governadora dificilmente deixaria de aderir a uma candidatura de um aliado próximo, para fazer adesão a de um aliado de ocasião.
Está difícil para o conservadorismo norte rio-grandense homologar uma candidatura para chamar de sua, todos os apresentados não passaram de balão de ensaio, sem demonstração de musculatura, ao menos razoável, para enfrentar a comandante em chefe do executivo estadual. Os ministros Fábio Faria (PSD) e Rogério Marinho (PL) nem sintonia entre si possuem, e na dificuldade para se montar uma estrutura majoritária, parece que a Presidência da República nem está sob o comando do bolsonarismo.
Com o deputado Benes Leocádio (Republicanos) o furor durou pouco. Até com Álvaro Dias (PSDB) há impasse numa empreitada, tendo o exemplo de Carlos Eduardo logo ali, o prefeito natalense impõe a si mesmo algum arroubo para topar a investida. Não seria então mais fácil bancar uma tarefa governamental, por exemplo, com o senador Styvenson Valentim (PODE), que nada tem a perder, vide que ainda tem mais 4 anos de mandato? Mas se há entraves para o bolsonarismo em Natal, onde proporcionalmente tem maior número de simpatizantes no estado, do que dirá no interior, e nem mesmo Valentim, que abriga seu público cativo na Região Metropolitana, demonstra disposição para ir ao combate. Pelo visto, quem for ungido no campo conservador, tende a ser aquele que escolhido em última hora, tenha ao menos algum ânimo para percorrer os primeiros 45 dias de campanha.
Caso vingue a dobradinha Fátima e Carlos Eduardo, e a composição saia vitoriosa nas urnas, eleito senador, o pedetista tende a começar a se movimentar para a próxima eleição visando a cadeira do Governo, comportamento comum entre os senadores. Fátima Bezerra vai para a reeleição conseguindo um feito que seus dois últimos sucessores, Robinson Faria (PSD) e Rosalba Ciarlini (PP), não conseguiram, defender seu mandato com condições de sucesso eleitoral. Para 2022 o que importa é o momento, como é de praxe no histórico eleitoral brasileiro, os adversários de outrora podem ser aliados por hora. Pondo os interesses à mesa, a equação para uma aliança favorece reciprocamente, e é nisso que trabalham os interlocutores de Fátima e Carlos.
* Opinião pessoal do colaborador do blog