Postado às 04h14 | 26 Ago 2020
Luiz Felipe D’Ávila - ESTADO
Um dos problemas do Brasil é a ausência de um projeto de País. Existem apenas projetos de poder. Não é por outra razão que os interesses imediatistas prevalecem sobre os interesses nacionais. E assim a Nação vai paulatinamente esgarçando a esperança no futuro, a confiança nas instituições e a credibilidade do sistema político. No fim de 2020 vamos encerrar mais uma década perdida: economia estagnada, o maior desemprego da História, renda do brasileiro em queda e o nível de escolaridade entre os piores do mundo, segundo o Programa Internacional de Avaliação (Pisa). Terminamos a década com dois recordes: somos os campeões de gastos públicos e o povo que mais paga impostos entre os países emergentes.
Em vez de transformar a pandemia numa grande oportunidade para mobilizar a sociedade e o Congresso em torno das reformas administrativa e tributária, combater a insegurança jurídica e pavimentar o caminho para a retomada do investimento privado em infraestrutura, o governo abandonou a agenda liberal e resolveu dar prioridade à a sua agenda político-eleitoral.
O primeiro alerta vem do gabinete presidencial. A ala econômica propõe recriar a CPMF e aumentar impostos, já a ala política pressiona o Congresso para abandonar o teto de gasto público. Ao renunciar à política fiscal responsável e aumentar a dívida pública, o governo repete a tradicional fórmula da irresponsabilidade política: aumenta-se o endividamento público para garantir a eleição, distribuindo dinheiro a Estados e municípios e deixando uma gigantesca dívida a ser paga pelas gerações futuras. A função do teto do gasto é justamente frear essa prática leviana, que arruinou as contas públicas do País.
O segundo sinal vem da estratégia de comunicação. O presidente continua em permanente campanha eleitoral, fomentando polêmicas na imprensa para manter a sua vasta cobertura na mídia. Trata-se de uma estratégia eficaz para alimentar as redes sociais do presidente e cultivar o apoio dos seus fiéis seguidores, que correspondem a 30% do eleitorado. Mas ela é ineficaz para construir o consenso político em torno das reformas inadiáveis de que o País precisa aprovar.
O terceiro sinal é o empenho do governo em seduzir o Centrão. O objetivo é persuadi-lo de que com dinheiro em caixa e a popularidade do presidente, Bolsonaro é um candidato imbatível em 2022. O Centrão precisa garantir os votos no Congresso para o governo agora, a fim de ter um lugar cativo na coligação governista em 2022. Mas na política nem sempre as coisas acontecem como se planeja. A ausência de um projeto de País pode arruinar o projeto de poder.
Em 1984 o Brasil se mobilizou em torno das Diretas-Já, um movimento cívico para pressionar o Congresso a votar a emenda constitucional Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições diretas para presidente da República. O governo militar ignorou a pressão das ruas e derrotou a emenda no Congresso, assegurando a realização de eleições indiretas para presidente em 1985. Os militares acreditaram ter dado xeque-mate na oposição e que o candidato governista venceria a eleição.
Mas a oposição tinha um plano e um excelente candidato. O plano era fazer uma transição pacífica do autoritarismo para a democracia, sem revanchismo. Esse gesto conciliador era vital para atrair os votos de parte da ala governista. A oposição escolheu Tancredo Neves para ser o candidato presidencial. Ulysses Guimarães, o líder inconteste da oposição, teve a grandeza de abrir mão da candidatura em favor de Tancredo. Ulysses sabia que Tancredo era mais capaz de criar um leque de apoio mais amplo no Congresso.
A tarefa de Tancredo ficou mais fácil quando o partido do governo escolheu o polêmico Paulo Maluf como candidato presidencial. Imediatamente rachou a base do governo e se criou uma ala dissidente, a Frente Liberal. A oposição convidou José Sarney, cacique da ala governista, para se tornar o vice na chapa de Tancredo. Com o bloco governista divido e a habilidade política de Tancredo para conquistar os votos dos dissidentes, a oposição virou o jogo e Tancredo venceu a eleição no colégio eleitoral.
A lição é clara. Em momentos de polarização e de tensão, o País precisa de líderes capazes de construir pontes. A eleição de 2022 não será pautada pelo radicalismo, mas pela capacidade de unir a Nação em torno de um projeto de País. Não será vencida pela exploração da polarização, mas pela construção de alianças em torno de propostas concretas para fazer o Brasil voltar a crescer, prosperar, gerar empregos e combater as desigualdades sociais.
O movimento Unidos pelo Brasil oferece uma agenda concreta que para impulsionar a retomada do crescimento da economia, do investimento e do emprego.
Trata-se de uma oportunidade única para exercitarmos a capacidade de construir pontes entre a sociedade civil, o Congresso e o governo em torno de uma agenda para o País. O Brasil precisa de união, caso contrário corremos o risco de deixar para as futuras gerações mais uma década perdida.