Postado às 05h04 | 17 Mar 2020
Em mais uma onda de prisões entre funcionários de vários escalões do governo saudita, 298 pessoas foram detidas sob acusações que vão de abuso de poder a cobrança de propina no cargo. O anúncio foi feito pela Comissão de Controle Anticorrupção na noite deste domingo — o valor envolvido nos supostos crimes chega a 379 milhões de riais, equivalente a meio bilhão de reais, pela cotação atual. Entre os detidos estão oito altos funcionarios do Ministério da Defesa e dois juízes. Apenas seus cargos foram revelados, com os nomes dos acusados mantidos em sigilo pelas autoridades.
No começo do mês, o governo saudita ordenou a prisão de três integrantes da família real, incluindo o ex-sucessor da coroa, Mohammed bin Nayef, por razões ainda não explicadas. A ordem veio diretamente do primeiro na linha de sucessão do rei Salman, o príncipe Mohammed bin Salman, que desde 2017, quando foi alçado ao posto, vem realizando uma espécie de purga nos altos escalões do governo, se livrando de adversarios em potencial. Com a saúde de seu pai, de 81 anos, inspirando cuidados, o príncipe se tornou na prática o líder do país, levando adiante planos de modernização da economia, ao lado de ações como a intervenção militar no Iêmen, iniciada quando ainda ocupava o Ministério da Defesa. O conflito provocou uma das maiores crises humanitárias do planeta.
Em 2018, o príncipe foi acusado de ordenar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto e esquartejado dentro do consulado-geral da Arábia Saudita em Istambul. O corpo jamais foi encontrado. Bin Salman nega qualquer participação no caso, muito embora serviços de inteligência de vários países o apontem como mandante. Em dezembro do ano passado, cinco pessoas acusadas de participação no crime foram condenadas à morte pela Justiça saudita.