Postado às 05h56 | 04 Abr 2020
Curva epidemiológica começa a achatar nos três países Foto: Arte O Globo
O número de novas infecções por coronavírus estabilizou-se e começou a cair em Espanha e Itália, os países europeus mais atingidos pela pandemia de Covid-19, assim como na Alemanha, afirmaram autoridades dos três países nesta sexta-feira. A tendência de queda nos números está diretamente ligada à adoção de medidas rígidas de isolamento impostas em março.
O achatamento das curvas de novas infecções e mortes não significa que tenha parado de haver novos casos de contágio e óbito, mas apenas que a propagação está se dando de forma mais lenta. A redução é mais perceptível na Itália, que impôs quarentena antes, em 9 de março, mas pode ser verificada também em outros lugares. Nesta semana, o governo italiano estendeu a quarentena obrigatória até a Páscoa, no dia 13 de abril.
— Há uma clara tendência de declínio na Itália. O número de novos casos nesta semana foi muito menor do que nas últimas semanas. Isto é claramente um efeito da quarentena e das restrições — afirmou ao GLOBO Michele Tizzoni, da ISI Foundation, de Turim. — O efeito das políticas nunca é imediato, elas levam algum tempo para produzir consequências. Creio que o que vemos na Itália vá se repetir em outros lugares.
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O número de novos casos confirmados entre quinta e sexta-feira na Itália — que foi o epicentro mundial da pandemia durante a maior parte do mês de março, até ser ultrapassada pelos Estados Unidos — foi de 4.585, em comparação com 4.668 da véspera. Este foi o quinto dia consecutivo em que o número de novos casos permaneceu entre 4.050 e 4.782, confirmando a expectativa do governo de que a propagação do vírus tenha se estabilizado, após o pico de 6.557 novos casos em 21 de março.
Embora alguns estudiosos observem que a redução nos índices de testagem pode interferir indicando um número menor de confirmações, outros dados do Ministério da Saúde italiano, como uma redução nas hospitalizações, aponta para uma queda geral do ritmo das infecções. O número de óbitos também mantém-se estável, e houve 766 novas mortes atribuídas à Covid-19 de ontem para hoje, abaixo das 837 de terça-feira e do pico de 919 na sexta-feira da semana passada.
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A Espanha, o segundo país mais afetado da Europa, também apresenta uma tendência de redução da velocidade de crescimento da epidemia. Em entrevista coletiva em Madri, María José Sierra, do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias da Espanha, afirmou que o “acréscimo do número de infectados não chega a 7%, o que confirma a tendência de diminuição dos últimos dias”. Na semana passada, o crescimento do número de novos casos chegou a 20% por dia.
Segundo especialistas, o índice de mortes deve ser o último indicador a baixar, após, respectivamente, o de infecções e o de internações. Há uma semana, o número de falecidos diários na Espanha supera 800. Nesta sexta-feira, o indicador, que ontem foi de 950, caiu pela primeira vez em quatro dias, e foi de 932. Mesmo assim, o percentual de aumento tem tendência de queda: se, na terça-feira, o indicador era de 11,5% mais mortes por dia, agora é de 9,3%.
A Espanha decretou quarentena no dia 14 de março. Apesar disso, segundo Jeffrey Lazarus, pesquisador do Instituto de Saúde Global (ISGlobal), de Barcelona, nos primeiros dias após a ordem para ficar em casa, “as pessoas estavam muito confusas” sobre o que poderiam ou não fazer, o que não esvaziou as ruas. Desse modo, “a primeira semana da quarentena não pode ser contada inteira”. Ele afirma que, agora, resultados do isolamento já podem ser vistos, mas que, para o sistema de saúde espanhol ser capaz de atender à demanda de doentes, ainda é necessário que os índices caiam mais.
— A Espanha está prestes a superar a Itália em termos de casos registrados, e tem o índice mais alto do mundo de confirmações em termos percentuais. A curva [de novas infecções] pode estar se achatando, mas ainda está muito alta — afirmou. — O motivo pelo qual pode estar se achatando é devido à quarentena, que quebra a cadeia de transmissão. Precisamos permanecer extremamente vigilantes e saber que, nas próximas semanas, ainda haverá muitos casos, e que os sistemas de saúde em Madri e Barcelona já estão acima de suas capacidades.
As restrições de movimento também têm mostrado resultado na Alemanha, afirmaram autoridades locais. Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch, principal agência federal de controle de doenças transmissíveis, disse que cada pessoa contaminada pelo vírus agora infecta em média apenas uma outra, em comparação a sete anteriormente. Quando o ritmo de propagação é inferior a um, isto significa que a epidemia está encolhendo, com tendência a desaparecer. Wieler disse que “este é o objetivo” das autoridades alemãs.
— Vemos como a propagação do vírus se desacelera. Estamos vendo que funciona — disse Wieler, em uma entrevista coletiva. — Sabemos que fizemos baixar os números com as medidas, e queremos baixá-los ainda mais.
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que os números oferecem “uma esperança prudente”. Ela acrescentou, no entanto, que é “muito cedo” para suavizar as medidas restritivas adotadas para frear o contágio, como a proibição de reuniões de mais de duas pessoas, o fechamento de lojas e escolas e a ordem para que as pessoas fiquem a pelo menos 1,5 metro umas das outras.
Segundo o Instituto de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, a Alemanha tem mais de 90 mil casos registrados de coronavírus, com 1.017 mortos confirmados. O país tem feito novos esforços para tratar doentes, e obteve 1.500 novos respiradores, que estarão disponíveis em hospitais em abril. Atualmente, 40% do total de aparelhos no país estão livres para uso.
Na França, há os primeiros sinais de desaceleração, mas ainda é necessário esperar até a semana que vem para saber se o confinamento no país, adotado em 17 de março, de fato teve efeitos. Os surtos do Reino Unido, que começou mais tarde que o resto da Europa, e dos EUA, onde não foi aplicada medida nacional de isolamento, não mostraram sinais de desaceleração. A Suécia, que manteve o comércio aberto, por sua vez, registrou um aumento dos casos.
Enquanto prolongam suas quarentenas, os países discutem as suas estratégias de retomada das atividades. Entende-se que as “estratégias de saída”, como são chamadas, deverão ser graduais, autorizando primeiro uma movimentação limitada e determinados tipos de comércio.
— Na Espanha, espero que demore de quatro a oito semanas, na melhor das hipóteses. (A estratégia de saída) Deve ser muito lenta, e, se não funcionar, a normalização será interrompida e revertida. Ainda estamos no meio de uma situação emergencial na Itália e na Espanha, em que o sistema está completamente além de sua capacidade — afirmou ao GLOBO Carlos Chacour, do ISGlobal.