Postado às 07h29 | 01 Dez 2020
Estado
A construção de uma frente ampla formada por partidos de centro é uma possibilidade real para as eleições de 2022. Mas para que a iniciativa seja bem-sucedida é preciso que as siglas se organizem em torno de um projeto comum, avalia o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino. “Não se sabe se os partidos vencedores em 2020 vão articular um projeto único”, afirma. Abaixo, leia a entrevista.
É uma possibilidade real e uma necessidade se o centro quiser fazer dessas vitórias no plano municipal uma vitória nas eleições gerais. Se o centro não conseguir se organizar em torno de um projeto comum, tende a repetir o fracasso de 2018, quando foi cada um por si. Nesse momento, se o centro não fizer isso, tende a repetir o mau desempenho em 2022.
Podemos ter de fato uma emergência de uma frente articulada em torno de candidaturas do centro, que desafiem o bolsonarismo em 2022, mas não vejo isso como uma nova polarização. Por definição, a polarização tem a ver com opostos de extremos. O centro tenta aglutinar parte dessas forças opostas, não está nas pontas. Quanto a esta frente de centro, não se sabe se os partidos vencedores em 2020 vão articular um projeto único. Vimos uma derrota de projetos polares, de um lado a esquerda mais antiga e do outro o polo bolsonarista.
A esquerda tradicionalmente se une no segundo turno. Essas rusgas como a de Ciro e Dino fazem com que Boulos saia como uma liderança importante e se crie cada vez mais um novo foco de poder. Estamos assistindo a uma reorganização da hegemonia da esquerda, antes do PT, que agora a perdeu e terá dificuldade para reaglutinar todo mundo sob sua asa. Isso pode dividir ainda mais a esquerda.
Lula sempre investiu fortemente na ideia de que o PT é a grande alternativa da esquerda. Com o resultado de 2020, ele perde esse discurso. Isso também é ruim para Bolsonaro, que depende de manter o ‘inimigo’ vivo. Um PT fraco não ajuda o projeto de Bolsonaro de tentar reeditar a polarização de 2018. Para Doria e Huck, é importante que o PT se enfraqueça, mas a emergência de uma esquerda diferente, com valores oxigenados e que flerta com a responsabilidade fiscal, pode esvaziá-los enquanto alternativa de centro. Para Ciro, se o PT não é mais hegemônico, ele se aponta como alternativa. É um cenário de incertezas.
O que explica a maior pulverização de partidos entre prefeituras do País em 2020?
A pulverização é reflexo da pulverização do Congresso e do próprio cenário partidário do País. Há iniciativas que buscam corrigir isso, como a cláusula de desempenho, por exemplo, mas os efeitos demoram. A proibição de coligações proporcionais no pleito deste ano acabou levando a um aumento de candidaturas majoritárias entre todos os partidos. É um efeito direto.