Postado às 06h03 | 17 Jul 2020
Bernardo Mello Franco
O Brasil terá o quarto ministro da Educação em um ano e meio. O pastor Milton Ribeiro tomou posse ontem, em cerimônia fechada no Planalto. Ele comandará uma pasta estratégica, que o bolsonarismo tenta reduzir a um aparato de guerra cultural.
O capitão já submeteu o MEC à inépcia de Ricardo Vélez e aos delírios de Abraham Weintraub. Os dois estavam mais preocupados em caçar comunistas do que em cuidar dos estudantes. No fim de junho, anunciou-se a nomeação de Carlos Decotelli. O professor caiu antes da posse, embrulhado em diplomas imaginários.
Com esses antecessores, Ribeiro não precisaria fazer muito para se destacar. Mesmo assim, sua primeira impressão foi desanimadora. Em vídeos que circularam nos últimos dias, o novo ministro revela ideias retrógradas e preconceituosas.
Falando a fiéis de sua igreja, ele disse não acreditar em “métodos suaves” na educação. As crianças precisariam “sentir dor” para aprender. Em outra gravação, Ribeiro reclamou da pílula e disse que as universidades ensinam a “prática sem limites do sexo”. Passei quatro anos numa federal e não tive a chance de acompanhar essas aulas.
Na posse, o pastor se esforçou para desdizer o que disse. “Jamais falei em violência física na educação escolar e nunca defenderei tal prática”, discursou. Mais adiante, ele afirmou ter compromisso com a laicidade do Estado. Não se trata de uma escolha: é um princípio básico da democracia, assegurado pela Constituição.
Do que interessa, Ribeiro falou pouco. Ele acenou com diálogo, prometeu restaurar a autoridade do professor e se disse “entristecido” com o desempenho do Brasil em exames internacionais. Ainda teve tempo de contar que sua sogra dirigiu uma escola, mas não mencionou a pandemia do coronavírus.
Desde março, milhões de estudantes brasileiros estão em casa. Coordenar a volta às aulas deveria ser o principal desafio da pasta. “Até aqui, o MEC esteve completamente ausente desse debate”, lamenta a professora Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV. Ontem o novo ministro simplesmente ignorou o assunto.