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Análise: "Zigue zague” na Espanha: a direita ganha e não leva

Postado às 05h59 | 28 Jul 2023

Na foto, Pedro Sánchez (E), socialista, entrou na eleição derrotado, mas pode ganhar de Alberto Núñez Feijóo (D), centro-direita.

Ney Lopes

Diz-se que a política “dá em cima e dá em baixo”. Uma espécie de roleta.

Quem diria que Lula seria presidente pela terceira vez, após tantas denúncias de corrupção?

Seria inadmissível, que Bolsonaro, sem nenhuma vivencia administrativa, expulso do exército, deputado federal sem expressão, do dia para noite chegasse a presidente da República.

São fenômenos, que só acontecem nas democracias.

A Espanha, no momento, é amostra viva do “ziguezague” da política.

A eleição realizada neste final de semana deu uma vitória de Pirro a direita, que ganhou, mas não levará.

O PP, partido que teve mais votos, aliou-se ao Vox, partido da ultradireita espanhola, que alimenta conflitos com os refugiados, LGBT e negros.

Resultado: a soma dos deputados  eleitos no PP e no Vox não chega a 176 votos no Parlamento, que permitiria formar o novo governo.

Criou-se o impasse, que poderá garantir a permanência de Sánchez, o atual líder socialista do PSOE, como primeiro ministro espanhol, o que era tido como improvável acontecer.

A ultradireita tem enorme rejeição e é acusada de cuidar dos seus próprios interesses quando chega ao poder, além de posições de discriminação entre pessoas e grupos.

 Esses fatos “fecham as portas” para Alberto Núñez Feijóo, o líder do PP (centro-direita), eleger-se primeiro ministro.

Os demais partidos espanhóis não aceitam a companhia do Vox (radicais de direita).

Aí surge a figura controvertida de Carles Puigdemont, que presidiu a região da Catalunha e articulou movimento político, visando a separação da Espanha.

Em decorrência da rebeldia, Puigdemont vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça espanhola e é eurodeputado desde 2019.

Por ironia do destino, ele tem a chave do poder.

Está acusado de peculato (pelo uso de verbas públicas para organizar um referendo ilegal sobre a independência da Catalunha, em outubro de 2017) e desobediência.

Puigdemont negou obediência ao rei e tornou-se inimigo número um de Sánchez, o primeiro ministro, e que hoje está diante da delicada situação de pedir-lhe apoio político para continuar no governo.

A grande dificuldade é que Puigdemont só admite conversar com Sánchez se for negociada uma anistia, autodeterminação da Catalunha e respeito à Constituição

O partido separatista Juntos pela Catalunha (JxCat), de Carles Puigdemont, até agora “não está alinhado” em Madrid nem com a esquerda, nem com a direita.

Os socialistas dizem que não podem aceitar as exigências de Puigdemont..

E a direita será que negociará? Ninguém sabe.

A verdade é que a política espanhola se transformou em “zigue zague” com muitas voltas, sinuosidades e tortuosidades.

Pedro Sánchez, o primeiro ministro espanhol, que hoje precisa do desafeto para manter-se no poder, esqueceu o conselho de Vargas¨:"Não tenho inimigo de quem não possa me aproximar nem amigo de quem não possa me distanciar.".

Caso não seja montada uma coalizão, haverá nova eleição

 

 

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