Análise: "Uma vítima das pandemias de 1918 e de 2020
Postado às 15h27 | 21 Set 2020
Ney Lopes
Em época de pandemia, uma história curiosa e singular. Raimundo Leonardo de Oliveira – seu Mundico, para os mais próximos – é um mineiro, de Durandé, da Zona da Mata (MG).
Trabalhador, sempre de fisionomia alegre, já com 102 anos de vida. Criou 12 filhos e tem 22 netos, 25 bisnetos, dois trinetos.
Além da intensa luta pela sobrevivência, seu Mundico enfrentou – e venceu – simplesmente os dois maiores inimigos que a saúde pública mundial encarou até aqui em dois séculos: a gripe espanhola, em 1918 e agora a COVID-19.
Aos 9 meses de idade, o bebê Raimundo de Oliveira pegou a gripe espanhola, pandemia que assolava o planeta no início do século XX (1918). Ele conta, que a contaminação ocorreu durante a amamentação, pois sua mãe também havia contraído a doença. Como na época a família não tinha recursos e morava na zona rural, mãe e filho não tiveram nenhum tipo de atendimento médico. Foram aproximadamente dois meses de convívio e sofrimento com a gripe espanhola.
Em casa foram curados com os chamados remédios “da roça” - combinação de ervas, chás e plantas -, que fazem parte da cultura do interior. Até 1920, estima-se que o número de mortos com a “gripe espanhola” tenha ficado entre 40 e 50 milhões, uma das maiores epidemias da história.
No país, estima-se que 65% da população adoeceu. Passados 102 anos, no último dia 31, “seu Mundico” recebeu alta do hospital, após curar-se da Covid 19.
Essa segunda vitória foi maior, porque ele dividiu com dona Nivercina, sua esposa, com quem casou em 1945, também vítima da atual pandemia. A saída do hospital teve a emoção que o momento merecia: enfermeiros, médicos, funcionários e familiares festejaram a vitória na luta de ambos contra o coronavírus.
Emocionado, Nelcimar, um dos seus filhos, declarou orgulho pelo seu pai: “um homem forte, que derrotou duas pandemias, perdeu a visão para os anos, mas não perde a alegria de viver”.
Realmente, história abençoada a de “seu” Mundico e dona Nelcimar. Mostra a força do amor familiar, do trabalho persistente e honesto, ao longo de suas vidas.
Que Deus os abençoe!
