Postado às 10h38 | 17 Nov 2020
Ney Lopes
Depoimento do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela:
“Depois de me tornar presidente, pedi a alguns membros da minha escolta para ir passear pela cidade. Após o passeio, fomos almoçar num restaurante. Sentamo-nos num dos mais centrais, e cada um de nós pediu o que lhe apetecia. Depois de um tempo de espera, apareceu o empregado trazendo os nossos menus.
Foi aí que eu percebi que na mesa que estava na nossa frente, havia um homem sozinho, à espera de ser atendido. Quando foi servido, eu disse a um dos meus soldados: Pede aquele senhor que se junte a nós. O soldado foi e transmitiu-lhe o meu convite. O homem levantou-se, pegou no prato e sentou-se ao meu lado.
Enquanto comia as suas mãos tremiam constantemente e não levantava a cabeça do seu prato. Quando terminamos, ele despediu-se de mim sem olhar, apertei-lhe a mão e partiu. O soldado comentou: Madiba, esse homem devia estar muito doente, já que as suas mãos não paravam de tremer, enquanto comia. - Não, não estava doente! A razão dos seus tremores é outra.
Eles olharam para mim de forma estranha e eu expliquei-lhes: - Aquele homem era o guarda da minha cela na prisão onde eu estava; muitas vezes, depois das torturas a que me submetiam, eu gritava e chorava pedindo um pouco de água, ele vinha, humilhava-me, ria-se de mim e em vez de me dar água, urinava na minha cabeça. Não, ele não estava doente, estava assustado e tremia talvez porque esperava que eu, agora que sou presidente da África do Sul, o mandasse prender e lhe fizesse o mesmo que ele me fez: torturá-lo e humilhá-lo.
Mas eu não sou assim, essa conduta não faz parte do meu caráter, nem da minha ética.
Mentes que procuram vingança destroem estados, enquanto às que procuram a reconciliação constroem nações."