Postado às 06h04 | 31 Mai 2021
Ney Lopes
A mídia tem destacado textos sobre um exemplo que deve ser exaltado, em época de tantas desigualdades sociais.
Trata-se da conciliação da atividade empresarial com os objetivos do lucro e responsabilidade social da empresa privada.
Rui Nabeiro virou sinônimo de investimento com responsabilidade social, em Portugal.
Ele é fundador da Delta, maior marca de cafés em Portugal, e com negócios que se estendem por mais de 20 empresas, do setor de vinhos ao de transportes.
Continua trabalhando diariamente, aos 90 anos.
Aos 14 anos começou a interessar-se por torrefação de café e levava o produto de casa e casa para os clientes, numa pequena bicicleta.
Nabeiro estudou apenas até a 4ª série, mas sempre exaltou a importância da educação, dizendo: “A grande arma do ser humano é a escola. ”.
Talvez o segredo da vida do sr. Rui Nabeiro é repetir sempre ter nascido em família pobre, sentiu na pele o que é “viver mal” e por isso quer dar as melhores condições possíveis aos seus empregados.
Mantém o Centro Educativo Alice Nabeiro — batizado em homenagem à mulher, com quem é casado há 67 anos.
Oferece gratuitamente escola, atividades esportivas, aulas de música, robótica e noções de programação.
Além disso, concede aos seus empregadois benefícios tradicionais, como plano de saúde, acesso facilitado à compra de carros e casas.
Outra máxima do sr. Nabeiro é dizer que sempre investiu nas pessoas.
As ações sociais do empresário em sua cidade natal, Campo Maior, transformaram a pequena vila no Alentejo, em uma espécie de oásis, com indicadores de salário e envelhecimento populacional melhores do que a média nacional.
Quando a empresa era menor, o empresário chegou a levar funcionários em excursões com ele e a família nas férias.
Ele confessou a um repórter que não “gosta de dizer não, é muito triste. A pessoa que vem para junto de nós tem sempre uma ambição, vêm com uma confiança. É difícil escutar o não. ”
Segundo a revista Exame, hoje o seu patrimônio é de 462,2 milhões de euros (cerca de R$ 2,9 bi).
O bilionário português Rui Nabeiro é uma referência no empreendedorismo social do mundo.
O difícil num país como o Brasil é defender tais ideias.
Um dos meios seria atrelar às concessões de incentivos, juros diferenciados, isenções, ao dever da empresa atender certas necessidades sociais dos seus trabalhadores e dependentes, como meio de contrapartida dos benefícios tributários recebidos.
Infelizmente, regra geral, predomina, a partir do próprio governo, a concepção de que o lucro está acima de tudo e qualquer obrigação social atrapalha a atividade econômica.
O social vem depois, quase sempre com a responsabilidade totalmente transferida para as costas dos governos, que cada dia sofrem pressões para reduzir receita, com eliminação de impostos.,
Para o mundo que nascerá após a pandemia, a visão do empreendedorismo social irá prevalecer como chave do sucesso nos negócios privados.
O Brasil entenderá isso. Muita gente, inclusive no empresariado, já pensa assim.