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Análise: "Trump pode vencer, mas não pode ainda concorrer"

Postado às 04h54 | 07 Jan 2024

Ney Lopes

Há três anos, o respeito pelos Estados Unidos e seu sistema político sofreu um grande impacto quando imagens de milhares de apoiadores de Donald Trump apareceram nas telas de TV de todo o mundo, atacando o Capitólio.

A tentativa violenta de apoiadores do então presidente de impedir que uma sessão conjunta do Congresso certificasse a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020 foi frustrada, com o custo de cinco vidas.

A vantagem cada vez maior do favorito republicano sobre o presidente Joe Biden pode não valer para nada se a Suprema Corte dos EUA disser que ele não tem condições de concorrer à reeleição.

A grande indagação é se o ataque foi uma "insurreição"? 

Cabe agora à Corte Suprema Americana decidir se quer responder a essas perguntas.

O parecer vai determinar se ele pode entrar na corrida presidencial de 2024.

Também oferecerá à democracia americana a chance de resgatar sua reputação.

A complicação é uma cláusula de duas frases na 14ª Emenda da Constituição dos EUA,  que visava impedir ex-confederados, que haviam se rebelado contra a União, recuperassem o poder após a Guerra Civil em 1861.

A cláusula impede aqueles que se envolveram em insurreição ou rebelião contra o Estado de concorrer a cargos.

O que não está claro é se essa frase se aplica à Presidência.

Muitos eleitores indignados acreditam que sim.

Ações judiciais e outras formas de contestação foram apresentadas em pelo menos 33 dos 50 estados americanos.

Todos eles buscam tirar Trump das urnas.

Os tribunais do Colorado e do Maine declararam Trump inelegível.

Ele recorreu.

Este não é o único desafio legal no caminho de Trump para a Casa Branca.

Ele também enfrenta acusações criminais em quatro casos separados, incluindo a tentativa de anular a eleição de 2020, cometer fraude eleitoral no estado da Geórgia, manipular documentos confidenciais de segurança nacional e falsificar registros comerciais em conexão com um pagamento a uma estrela pornô que alegou que teve um encontro sexual com ele.

Pela lei americana Trump pode concorrer à presidência mesmo que seja condenado por qualquer uma das acusações criminais.

Mas seu obstáculo  imediato é a alegação de que ele não se qualifica para as primárias do seu partido.

Mesmo considerando a idade avançada de 81 anos, Biden anunciou sua candidatura à reeleição em abril.

A razão é que nem a vice-presidente Kamala Harris, nem qualquer outro candidato democrata poderia vencer Trump nas eleições gerais de 2024.

A economia tem sido apontada em várias sondagens como a questão mais crítica para os eleitores.

Biden apresentou forte crescimento e empregos, mas a inflação tem castigado as famílias americanas.

Trump pode afirmar que os americanos estavam melhor sob ele, e que a renda era maior e os preços mais baixos.

Os altos preços da gasolina, uma obsessão descomunal em um país onde três em cada quatro adultos se deslocam para o trabalho de carro, certamente prejudicarão Biden e darão tração à promessa de Trump de retomar a perfuração de petróleo no continente americano.

A grande dúvida é que se Trump for eleito e o tribunal mais tarde o considerar inelegível, o sistema político americano será testado como nunca antes.

Haverá uma crise constitucional.

Os fatos mostram que a incerteza acompanha as eleições presidenciais americanas em 2024.

O mundo aguarda com apreensão.

O enigma é que Trump pode vencer, mas hoje não pode ainda concorrer.

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