Postado às 06h16 | 05 Jun 2022
Ney Lopes - jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado
O processo eleitoral presidencial caminha para “os finalmente” e a largada da campanha. Nuvens cinzentas ainda pairam no ar.
O fato novo foi a saída de João Dória e a entrada da senadora Simone Tebet (MDB), como alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
O obstáculo é que as pesquisas apontam cerca de 71% do eleitorado, não sabendo quem é Simone Tebet.
O fato dela ser desconhecida pode tornar-se vantagem, especialmente sobre o eleitorado feminino, que é maioria de indecisos.
Além disso, a pré-candidata enfrenta dificuldades no seu próprio partido, que se divide entre apoiar Lula no Norte e Nordeste, contrapondo no Sul e no Sudeste alinhamento com Bolsonaro.
A senadora Tebet nasce ungida por grupo da elite econômica do país, manifestado em documento denominado “plataforma Change”, criada por Teresa Bracher, mulher do ex-presidente do Itaú Unibanco Candido Bracher e subscrito por empresários e economistas.
No primeiro passo dado, não há “cheiro” de respaldo popular, ou políticos de peso, salvo o ex-presidente Temer, que a apoia.
A candidatura da senadora Simone Tebet permitirá ao MDB respeitar a obrigatoriedade de investir ao menos 30% dos recursos dos fundos partidário e eleitoral (R$ 417 milhões) em candidaturas femininas.
O dinheiro é disputadíssimo pelos líderes partidários estaduais para eleger parlamentares e a legenda ter expressão no Congresso Nacional.
Em 2018, o MDB elegeu 34 deputados federais, ante 66 na eleição anterior.
O número de deputados é usado para definir a fatia do fundo eleitoral.
O fantasma é que os emedebistas não têm sucesso na disputa presidencial, desde 1989, quando Ulysses Guimarães obteve 4% dos votos válidos.
Em 2018, o candidato da legenda foi Henrique Meirelles, que alcançou 1,2% dos votos válidos.
Há admiradores da opção Simone Tebet, que defendem a inclusão de Ciro Gomes no diálogo MDB, PSDB e Cidadania.
Embora com temperamento rebelde, o pedetista é altamente competente, tem programa claro de governo e representa Leonel Brizola, o herdeiro do trabalhismo getulista. O contra-argumento é que Ciro com a estratégia de “bater” em Lula e Bolsonaro ao mesmo tempo, coleciona rejeição em ambos os lados, que reduz o seu potencial eleitoral.
Na transição democrática, o MDB cumpriu um papel significativo com Tancredo Neves e Ulysses Guimarães.
No final da década de oitenta, as dissidências internas deram origem ao PSDB, liderado por Fernando Henrique Cardoso, Mario Covas e Franco Montoro. Durante o processo de redemocratização, ainda em curso, o MDB centralizou as suas ações no domínio do Parlamento.
Transformou-se em “Partido do Governo”.
O “União Brasil”, um aliado potencial, resolveu lançar o deputado Luciano Bívar à presidência, como meio de apresentar a nova sigla ao país e evitar que o tempo de tevê, o maior de todos, termine distribuído a outros partidos.
É o caso de lembrar a máxima, de que “time que não joga não tem torcida”.
A possibilidade de aliança com Tebet é remota.
Dirigentes da União Brasil entendem que a coligação com o MDB poderia atrapalhar arranjos estaduais da legenda, cujo maior exemplo é a Bahia.
Já o PSD de Gilberto Kassab, oriundo de parte do PFL/DEM, tentou emplacar a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que desistiu.
Depois, Eduardo Leite, sem sucesso. Virou “biruta” de aeroporto. Poderá apoiar Lula, ou Bolsonaro.
Pelo visto, será tarefa complexa a pré-campanha da senadora Tebet.
Ela terá que evitar o voto útil, hoje defendido por Lula e Bolsonaro, para liquidar a eleição no primeiro turno.
Os candidatos dos extremos esvaziam os concorrentes para consolidar a polarização no campo do centro à extrema direita, onde se encontra Bolsonaro, com o peso da máquina do governo federal e identidade marcada pelo conservadorismo.
De outro lado, Lula dizendo-se progressista tenta “dividir” a centro-direita, através de Alckmin.
Ultimamente, ele perdeu diálogo com o PSDB, por ter afirmado que os tucanos “acabaram” e os “petistas” continuam fortes.
O desafio da senadora Simone Tebet é a sua candidatura “vingar” nesse verdadeiro labirinto de Creta, em que se transformou a sucessão presidencial.
Não será nada fácil. (Artigo publciado na Tribuna do Norte, em 04.06.22)