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Análise: "Riscos da reaproximação Irã e Arábia Saudita"

Postado às 06h56 | 12 Mar 2023

Ney Lopes

Na política internacional um dos acontecimentos de maior relevância foi o restabelecimento de relações entre Irã e Arábia Saudita, através de uma mediação da China.

Aliás, a assinatura do acordo ocorreu no mesmo dia em que Xi Jinping foi oficializado para um terceiro mandato à frente do gigante asiático. O fato terá influência, inclusive no Brasil.

Irã e Arábia Saudita  envolveram-se em uma luta feroz pelo domínio regional e essa disputa de décadas é agravada por diferenças religiosas. O Irã é majoritariamente xiita, enquanto a Arábia Saudita tem os sunitas como principal vertente.

QUEM SÃO OS SUNITAS? Entre 86% a 90% dos muçulmanos são sunitas. O nome vem da expressão "Ahl al-Sunna": "povo da tradição".

No caso, a tradição se refere a práticas derivadas das ações do profeta Maomé. Para eles, líderes muçulmanos subsequentes são figuras temporárias.

QUEM SÃO OS XIITAS? Os xiitas começaram como facção política: "Shiat Ali", ou partido de Ali.

O Ali era genro de Maomé, e os xiitas reivindicam o direito dele e dos descendentes de liderar muçulmanos.

Xiitas são a maioria da população no Irã, Iraque, Bahrein, Azerbaijão e, segundo algumas estimativas, também do Iêmen.

Mas também existem comunidades xiitas importantes no Afeganistão, Índia, Kuwait, Líbano, Paquistão, Catar, Síria, Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes

O distanciamento ocorreu em 1980, ao final de uma década turbulenta, após a Revolução Iraniana de 1979 e a guerra entre Irã e Iraque, entre 1980 e 1988.

Um grupo militante apoiado pelo Irã, chamado Hezbollah al-Hejaz, foi formado como uma organização clerical semelhante ao Hezbollah libanês – com a intenção de realizar operações militares dentro da Arábia Saudita.

Esses conflitos dividiram o Oriente Médio entre xiitas e sunitas e alimentou uma atmosfera de grande desconfiança entre o Irã e seus vizinhos ao longo do Golfo (de maioria sunita).

O fato novo é o restabelecimento dos laços diplomáticos na última sexta feira, após uma ruptura que havia escalado as tensões no Golfo e contribuído para a instabilidade do Oriente Médio.

 Um aspecto a ser analisado é a vitória da China nessa reaproximação entre Irã e Arábia Saudita.

Pequim tem interesses em ambos os países. Mantém parceria estratégica com Teerã e é um dos principais compradores do petróleo saudita.

As primeiras consequências foram os dois países concordando em reativar um acordo de cooperação na área de segurança assinado em 2001, além de um tratado anterior do campo comercial.

Não se pode negar que o episódio signifique uma mudança de paradigma para contra-atacar o domínio dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Mesmo com os avanços diplomáticos, muitos problemas surgirão pela frente.

As duas potências reaproximadas  apoiam grupos rivais nas guerras civis do Iêmen e da Síria, além de outros conflitos.

Segundo analistas, Israel é o maior derrotado do acordo.

Perde o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que apostava suas fichas no restabelecimento de relações diplomáticas com os sauditas para ampliar uma frente contra o Irã.

O problema é que, a partir de agora, os sauditas não integrariam uma coalizão contra Teerã.

Os sauditas já vinham dialogando com os iranianos e calcularam que simplesmente teriam mais benefícios tendo relações diplomáticas do que sendo inimigos.

A balança do poder mudou no Oriente Médio.

Não deixa de ser uma dor de cabeça para Washington, principalmente o fortalecimento da China.

Isso fará com os americanos intensifiquem esforços para proteger o seu grande aliado que é Israel, atualmente numa situação política caótica.

Há quem diga, que de agora por diante ficou mais fácil a China recuperar Taiwan.

Veremos!

 

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