Postado às 05h46 | 23 Nov 2023
Polarização de esquerda e direita no Brasil
Ney Lopes
Na política atual, as posições ideológicas assemelham-se a jogos de futebol.
Sempre a pergunta: quem ganhou, esquerda ou direita?
A vitória da esquerda é festejada como avanço e progresso.
A direita, retrocesso e privilégios para os ricos.
Falsa percepção.
As visões históricas e socioeconômicas confirmam que nas democracias a esquerda e a direita nunca são projetos acabados e muitas vezes se inter-relacionam.
A força desses grupos provém de um processo em mudança permanente, permeado de incertezas e das soluções possíveis no momento histórico.
“Só os profetas enxergam o óbvio”, dizia Nelson Rodrigues, um dos primeiros a perceber os riscos da radicalização do discurso político, em esquerda e direita.
Ele mencionava os idiotas, que são aqueles mais atrevidos, gritam mais, brigam mais e estão dispostos a ir até o fim para provar que têm razão, mesmo sem ter.
São os grupos da ultra direita e esquerda.
Zygmunt Bauman (1925-2017) sociólogo, filósofo polonês e britânico, caracterizou a sociedade como um tempo onde tudo é volátil e adaptável.
Nada está fixo, parado ou inalterado.
Essa teoria se aplica ao socialismo e liberalismo.
Ele lembra John Stuart Mill, um dos fundadores do liberalismo, que aceitou o princípio socialista, de que para implementar o programa liberal, é necessária distribuição justa de oportunidades, diminuindo-se a distância entre os mais ricos e os mais pobres.
Quando me intitulo defensor do “liberalismo social”, recorro a John Stuart Mill, que defendeu a repartição justa da produção na sociedade e a eliminação dos privilégios de nascimento, ao contrário do individualismo.
Lord Beveridge, o criador do Estado de bem-estar social britânico, dizia que para ser livre é necessário ter recursos e que haja um chão firme no qual se apoiar.
Nessa época, o então Primeiro-Ministro, Sir Robert Peei, criou imposto de renda para financiar assistência aos desassistidos e combater os déficits públicos.
No início do século XX, o imposto de renda já existia nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Áustria, Itália, Espanha, Bélgica, Suécia, Noruega
É célebre a afirmação de Bauman: “Não se pode ter liberdade, sem segurança. A liberdade e a segurança são obtidas juntas, ou não serão obtidas de modo algum. Esse é o ponto de encontro entre o socialismo e liberalismo”.
Diante dessas mutações, no Brasil, hoje, precisamos sacudir a democracia.
A tarefa da cidadania é democratizar a própria democracia e afastar a intolerância.
Para defender mudanças, que corrijam as injustiças e as desigualdades, não é necessário proclamar a vitória da “esquerda” ou “direita”.
As ideias não têm rótulos.
Elas têm conteúdo.
E o liberalismo social é tão avançado e revolucionário, quanto os verdadeiros socialistas democráticos, que preservam a liberdade humana.
Apenas alcançam os objetivos, por caminhos diferentes.
Ao final, todos confluem para a o bem-estar da sociedade, excluídos aqueles que defendem o totalitarismo do estado.
Cabe ao cidadão, decidir livremente, através do sufrágio.