Postado às 06h29 | 03 Mar 2022
Ney Lopes
Atualmente, o principal assessor de Valdimir Putin é o intelectual da extrema-direita Alexandre Dugin, considerado a bússola da política externa russa.
Esse ideólogo tradicionalista de direita, já veio ao Brasil várias vezes e segundo texto do jornalista Lucas Neiva fala português e desempenha papel semelhante ao de Olavo de Carvalho, como ideólogo do governo Bolsonaro.
Os dois chegaram a se conhecer, e escreveram juntos o livro “Os Estados Unidos e A Nova Ordem Mundial”.
Ambos lançam as mesmas acusações contra os mesmos inimigos internos: Olavo de Carvalho criou teorias de conspiração baseadas em um suposto conchavo pós-soviético, a qual atribui o nome de “globalistas”.
Dugin já afirma que o mundo é dominado por atlantistas, que seriam os líderes mundiais aliados dos Estados Unidos.
Olavo de Carvalho dizia que, com o fim do regime militar de 1964, as universidades brasileiras teriam sido infiltradas por agentes comunistas, tentando impor sua visão aos alunos.
Já Dugin acusa agentes capitalistas de se infiltrarem nas universidades russas, tentando impor o liberalismo americano no ambiente acadêmico russo.
Embora possam haver semelhanças em posições conservadoras e de extrema direita, Dugin e Carvalho discordaram.
O primeiro defende a China e o brasileiro era radicalmente pró-ocidental, ante comunista e ante-China.
O russo é criador da Quarta Teoria Política, em que defende alternativa às três ideologias que dominaram o século 20: liberalismo, comunismo e fascismo.
Nos anos 1990, Dugin era saudosista da URSS, tendo sido um dos fundadores do Partido Nacional Bolchevique.
Olavo de Carvalho recorria à doutrina católica para justificar suas posições, enquanto Dugin segue o mesmo caminho, buscando no cristianismo ortodoxo as explicações teológicas de sua doutrina.
Ao contrário de Olavo de Carvalho que influía à distância de Bolsonaro, Dugin está sempre no Kremlin e atua na política desde a década de 90.
Analistas comparam que a sua relação com Putin se assemelha com a relação entre o tzar Nicolau II e o monge Rasputin”.
Dugin afirmou à BBC ter sido um dos ideólogos por trás da anexação russa da Crimeia, até então pertencente à Ucrânia.
Não há dúvidas de que ele incentivou Putin invadir a Ucrânia.
O curioso é ser Putin considerado hoje o “farol” da extrema direita, financiando, ajudando e aproximando-se de líderes como Salvini (Itália) Marine Le Pen (França) e Viktor Orbán (Hungria).
Cabe lembrar a conhecida cordialidade do líder soviético com o ex-presidente Trump.
A afinidade do "tzar" soviético com esses líderes direitistas extremos é a defesa intransigente do uso da força militar, como único meio de governar com estabilidade.
A ofensiva de Putin desafia as democracias, diante de regime autoritário, que pretende levar às últimas consequências sua demonstração de poderio através das armas.
Os dirigentes russos dão o “recado” de que não pretendem dar ouvidos a apelos democráticos, como a soberania dos países e a valorização do diálogo diplomático.
Putin segue o roteiro das ditaduras: reprime à mão de ferro protestos contra a operação militar na Ucrânia, além de controlar as informações publicadas na imprensa.
Pelo visto, a “neutralidade” do Brasil no conflito da Ucrânia não é por acaso.
Tem origem e razão de ser.