Postado às 07h13 | 24 Set 2023
Ney Lopes
A mídia tem abordado com frequência, as marchas e contramarchas do governo federal.
São dificuldades surgidas no percurso.
Neste contexto, a figura do presidente Lula apresenta-se com perfil diferenciado dos últimos presidentes, inclusive dos dois mandatos anteriores em que ele esteve no poder.
A característica maior adotada é o pragmatismo, ou seja, valorizar o ser prático, com objetivos rápidos e definidos.
Assim tem sido, o presidente Lula.
Nos primeiros dias, usou linguagem à esquerda para anunciar políticas públicas e denegrir a pessoa do seu antecessor.
Com o tempo surgiram os problemas políticos, decorrentes de uma equipe montada a base de princípios e ideologias diferentes, exigindo ações diretas para equilibrar a balança.
O fenômeno mais evidente tem sido o descontentamento do bloco de radicais da esquerda, que forma o núcleo do PT.
Começa com críticas abertas à política econômica do ministro Haddad, que é pró equilíbrio das finanças e não “porta aberta” à gastança.
Veja-se a meta do déficit zero, já anunciada. Mereceu duras críticas da presidência do PT, que pretende mais recursos para atender a militância.
A revogação da reforma trabalhista clamada pela esquerda, não foi adiante.
O máximo conseguido foi a volta da contribuição sindical, porém na forma de negociação, desde que aprovada em assembleia.
A solução desagradou patrões e empregados.
Outro ponto inflexível da esquerda é a revogação de grande parte da reforma da previdência.
Nada aconteceu, até agora.
O ministro Lupi já foi repreendido, por dizer-se favorável a algumas mudanças.
Veja-se o capítulo das adesões e cooptações.
Os obstáculos para caracterizar um governo de esquerda foram expostos pelo próprio presidente, quando disse:
"A gente vai conversar com todo mundo que tem voto no Congresso Nacional, porque para aprovar as coisas que queremos precisamos de voto. E o PT, sozinho, não tem. O PT e a esquerda não têm os votos".
Na prática, ele vem agindo assim.
Com esse posicionamento, Lula firmou-se definitivamente como um pragmático, ou seja, somente é útil ao seu governo aquilo que servir como solução política imediata para os problemas existentes.
Foram incluídos na equipe de governo ministros de PP e Republicanos, partidos da base de Bolsonaro e que o apoiaram à reeleição no ano passado.
A base petista está insatisfeita, essa é a verdade.
O argumento é que a vitória de Lula não veio da classe alta, que está aderindo por conveniência.
Mesmo com pragmatismo, será difícil o presidente contornar as situações que irão surgindo ao longo do mandato.
Terá sempre que misturar azeite com água
Impossível diminuir muito o estado e não olhar com prioridade os pobres, como quer a direita, ou voltar-se para os gastos descontrolados, como defende a esquerda.
A jornalista Mônica Bergamo registrou: ”o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está ansioso e triste com as condições de governabilidade da atual gestão’.
Os dois primeiros mandatos de Lula (2003 - 2006; e 2007 - 2010) foram marcados pela popularidade do petista e pelos avanços dos programas sociais
Agora, o quadro é outro e só existem limitações.
Tudo isto faz com que hoje o maior desgaste político do presidente esteja localizado no PT, o seu próprio partido.
Só resta apelar para a sabedoria japonesa, com o provérbio que diz: “As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas”.