Postado às 05h55 | 21 Nov 2021
Ney Lopes
Neste domingo as prévias do PSDB para escolha de quem disputará a sucessão presidencial em 2022.
O clima de hostilidade interna do partido é de tal nível que há quem indague se as prévias serão apenas para indicar aquele que irá perder a eleição.
A verdade é que são muitas as diferenças entre as alas políticas dentro do PSDB.
A divisão entre os tucanos parece ser inevitável, após o processo de escolha.
Fato novo, ocorrido neste sábado, 20, agravou definitivamente o clima de tensão no ninho do tucanato.
Declararam apoio a Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, o presidente e o coordenador da Comissão de Prévias, senador José Aníbal (SP), ligado a Geraldo Alckmin, que está de saída do partido, e ex-deputado Marcus Pestana, ligado ao deputado Aécio Neves (MG),
A avaliação dos partidários de Dória é como se o presidente do TSE, um dia antes da eleição, declarasse voto em um dos candidatos.
Dos 1,3 milhão de membros do partido, 44.700 filiados e mandatários se inscreveram para votar no processo
A prévia é realmente uma forma democrática de seleção de candidatos num partido.
Porém, é necessário que o sistema eleitoral seja compatível.
Nos EEUU, por exemplo, ocorrem as prévias, lutas internas violentas, porém como prevalece o bipartidarismo, ao final os perdedores se acomodam.
No Brasil, além de mais de 30 partidos, a lei permite que até abril ocorram mudanças partidárias, sem prejuízo das candidaturas.
Isso é um convite a fragmentação dos quadros políticos, “rachados” numa luta interna como a do PSDB.
A polarização entre Dória e Leite colocou em “cheque” até a legitimidade do processo de escolha.
Quem perder dificilmente vai apoiar o vencedor. Restarão fissuras.
Além do mais, o PSDB adotou uma tal história de “peso” no voto dos convencionais. Uns valem mais do que outros. .
Foi derrotada a proposta do voto universal, ou seja, todos os filiados terem o mesmo peso.
Prevaleceram diferenças entre os filiados, parlamentares, prefeitos e vice, com percentual diferente para cada voto, na totalização final.
Notória discriminação entre os votantes.
Tudo leva a crer, que após as prévias, o PSDB não será mais o mesmo partido de antes, salvo um milagre político. O resultado está previsto para sair até as 19 horas.
O sonho de que o partido liderasse uma terceira via está distante.
Tudo em razão das profundas rixas internas e a disputa por recursos para as futuras campanhas eleitorais
O vencedor das prévias enfrentará o desafio de conter a debandada de parlamentares tucanos, o que pode encolher a bancada federal do partido.
Há previsões de até 15 dos 34 deputados federais deixarem a legenda, utilizando a "janela" de transferência partidária de 2022, que permite mudar de agremiação, sem perder o mandato
Há alas partidárias cientes das possíveis consequências. Avaliam que será necessário um gesto para unificar o partido, depois das prévias.
Já se combina nos bastidores um encontro de aproximação com a bancada e a presença dos dois governadores (SP e RGS), independente de quem for o vencedor do pleito interno.
A leitura é que será preciso recuperar o eleitor tucano que migrou para o bolsonarismo após as eleições de 2018, quando o PSDB registrou o pior resultado de sua história em uma eleição presidencial.
A sorte está lançada.
O partido que ganhou a fama de sempre acomodar-se “em cima do muro”, acumulou ao longo dos anos significativas divisões internas.
Aguarda-se o que ocorrerá, após essas primárias.
Será que virá a conciliação?
Ou, se consolidará a ruptura definitiva, anulando a influência da sigla na eleição presidencial de 2022?
A grande dúvida é se o partido sairá vencedor ou vencido das prévias de hoje.