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Análise: "Portugal dá lição de diplomacia"

Postado às 06h29 | 10 Jul 2022

 

Ney Lopes

O presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa visitou recentemente o Brasil e ocorreu um incidente diplomático.

O presidente Bolsonaro desconvidou-o para um almoço em Brasília, pelo fato dele encontrar-se com o seu opositor Lula.

O mandatário lusitano esteve também com os ex-presidentes FHC e Temer.

Mas, Bolsonaro injustificamente, não “engoliu” e provocou mais uma crise no seu governo.

No estilo de um estadista, o presidente português concedeu entrevista, na qual afirmou que em setembro atenderá o convite do senado brasileiro e participará das comemorações do bicentenário da independência do Brasil.

O presidente de Portugal foi mais adiante, ao declarar que se Bolsonaro ganhar a eleição, ele virá a posse.

Aliás, um dos poucos chefes de estado presentes a posse de Bolsonaro foi Marcelo Rebelo.

Em benefício das relações Brasil e Portugal, o incidente da última visita ao país está superado pelo estilo democrático do governante luso, que em nosso país comemorou a primeira travessia aérea do Atlântico Sul e acompanhou a Bienal do Livro.

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro é o primeiro chefe do Executivo a não visitar Portugal desde o início do atual regime democrático.

Entretanto, nunca foram tão importantes as relações bilaterais entre os dois países.

Os brasileiros são o maior grupo de estrangeiros vivendo em Portugal, — um terço do total.

Oficialmente, são quase 205 mil, mas se estima uma comunidade superior a 300 mil cidadãos.

O país presidido por Marcelo de Souza também está interessado na mão de obra brasileira, desde a menos qualificada até à ligada ao setor de tecnologia.

Nos últimos 10 anos, mesmo com todo o processo migratório, Portugal viu sua população encolher em mais de 500 mil pessoas, totalizando pouco mais de 10 milhões de habitantes.

O governo português tem a exata noção de que a parceria econômica com o Brasil é estratégica.

Não por acaso, tem defendido, abertamente, a aprovação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que foi assinado depois de 20 anos na geladeira e até hoje não executado, sobretudo pela resistência dos franceses.

A tendência global é que os países sejam menos paroquiais.

Por isso, o caminho é o diálogo e a humildade.

A evolução do mundo avança, inevitavelmente, no sentido da abertura.

Tudo o que se proponha a fechar horizontes reflete uma visão condenada.

O que se espera é que, também de parte do governo brasileiro, o desencontro entre os dois chefes de estado seja superado.

A lição de diplomacia, iniciada pela posição assumida pelo presidente Marcelo Rebelo, poderá ser seguida pelo presidente Jair Bolsonaro, em benefício da preservação das históricas relações entre Brasil e Portugal.

Assim  esperamos.

 

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