Postado às 05h52 | 21 Ago 2020
Ney Lopes
Está ocorrendo fenômeno atípico com a indústria do petróleo global. A destruição das economias pelo coronavírus, leva grandes empresas petrolíferas a anunciarem retrações nos seus investimentos na extração do petróleo e gás.
O sistema econômico mundial consome cerca de 32 bilhões de barris anuais.
Em março deste ano, o preço do petróleo nos mercados internacionais precisou de apenas alguns segundos para cair 30%, em consequência da disputa entre Arábia Saudita e Rússia. A queda representou a maior desvalorização do barril desde o início dos anos 1990, na Guerra do Golfo. O barril chegou a ser negociado a preços negativos nos EUA. Descompasso entre oferta e demanda levou a problemas de estocagem do produto. No final de abril, o petróleo teve uma queda sem precedentes.
O preço recuou mais de 300% e passou a ter cotação negativa, ou seja, com o preço menor que zero houve quem pagasse para vender um barril, pela inexistência de mercado consumidor. A crise também acelerou migração global para a energia limpa.
O coronavírus reduziu a demanda – fruto do isolamento social necessário para combater a pandemia, o que diminuiu o consumo e o incentivo à exploração. Empresas de maior dimensão começaram a recuar e avaliar o seu portfólio de descobertas, deixando algumas estacionadas.
A queda de preço levou ao esgotamento quase total das capacidades de armazenamento. Há petróleo demais sendo produzido, mas não há onde guardar os novos barris, que chegam das plataformas.
Este aumento da oferta que ocorre nos EUA, Brasil, Canadá e Noruega é novidade na geopolítica do petróleo porque reduz o poder da Arábia Saudita e da Opep no cenário de disputa global.
A repercussão na Petrobrás é preocupante, que já começou a vender ativos. O preço de venda do petróleo brasileiro está abaixo dos custos de produção (abaixo de US 20), até no pré-sal.
Nesse patamar, não há como vender no mercado mundial, nem no interno.
Solução é parar a produção.
Pelo visto, o futuro do petróleo é imprevisível. Será um complicador a mais, na difícil reconstrução da nossa economia, após a pandemia.