Postado às 16h50 | 29 Mai 2020
Ney Lopes
A pesquisa Datafolha confirma a eleição de 2018 no Brasil: a extrema direita cresceu e se mantém estável. Em razão da pandemia, Bolsonaro caiu. O seu governo está reprovado por 43% da população (antes era 38%). Porém, os seus apoiadores permanecem os mesmos: 33%. Surge a indagação: estaria correta a estratégia de radicalizar posições diariamente e buscar enfrentamentos?
O comportamento do presidente consolida os “fanáticos” (percentual dos 33%), aqueles que aderiram ao ideário da chamada “nova política” como uma religião. Entretanto, outros fatores influirão para a estabilização, ou não, do conservadorismo e da popularidade presidencial. O que ocorreu no país é o mesmo quadro sócio-político das eleições no Chile, Argentina, Colômbia, Peru, Paraguai. A ultradireita chegou ao poder na Hungria e Polônia. Na Alemanha, o neonazismo cresceu.
Na França, candidata de extrema direita quase ganha a eleição. Trump ganhou com votos de grandes centros operários. Por que tais fenômenos? A maioria dos cientistas sociais atribuem que, após o início do século XXI, o capitalismo se tornou cada vez mais dominado pelo capital financeiro, sem espaço para conquistas sociais. A única alternativa do cidadão passou a ser como sobreviver, muitas vezes, sem sucesso. A conjuntura favoreceu a liberalização das regras dos mercados, aumento das desigualdades e restrições às conquistas sociais.
A esquerda no poder, nada fez para mudar esse quadro. Ao contrário, prosperaram escândalos de corrupção. Em consequência, antes da pandemia o mundo assistia à escalada de onda de protestos, indo de Hong Kong ao Chile, passando pelo Líbano, Equador e outros países.
É o caso de perguntar: depois da pandemia, a estratégia de Bolsonaro ajudará sua reeleição, em 2022? Pelo que se pode prever, a pandemia mudará o mundo. Em razão desse fato, tudo dependerá de uma economia, que seja reconstruída, com a preocupação de reduzir desigualdades sociais.
Caso continue a linha ortodoxa e cruel, do atual “czar” Paulo Guedes, certamente o presidente se arrependerá de ter entregue a ele 99% do seu governo.