Postado às 06h25 | 19 Abr 2023
Ney Lopes
Não será fácil corrigir o embaraço diplomático criado pelo presidente Lula, nesta última viagem à China.
Na avaliação final, a viagem serviu para o Presidente espalhar brasas, que flamejam em nossas relações internacionais.
As brasas atingiram os Estados Unidos, a União Europeia, a NATO, a Ucrânia, o FMI, a cadeia bancária global, o uso do dólar nas transações internacionais.
Pela forma como Lula falou sobre a guerra da Ucrânia, analistas internacionais, em artigo, lhe fizeram as seguintes perguntas:
Considera que Estados Unidos e a União Europeia são responsáveis por ainda decorrer um conflito na Ucrânia?
Se para si é claro que a Ucrânia deve abdicar da Crimeia e do Donbass, o senhor aceitaria ceder algum Estado brasileiro a um país estrangeiro?
Entende que é errado os países ocidentais darem equipamento aos ucranianos para estes se defenderem e protegerem dos ataques russos?
Considera que a Ucrânia é responsável pelo início da guerra e pela invasão russa?
Quem é o agredido e quem é o agressor? Quem invadiu e quem foi invadido?
Até agora, perguntas irrespondíveis.
Em termos de economia, Lula em discurso defendeu, que as trocas comerciais entre países, no âmbito do Brics, sejam feitas com as moedas nacionais, como o real brasileiro e o chinês yuan.
Algo surreal.
Sabe-se, que a realidade é muito mais complexa, do que o desejo de libertação da hegemonia do dólar.
Foi após a Segunda Guerra Mundial, que a moeda americana passou a ser a referência monetária.
Na Conferência de Bretton Woods (1944) definiu-se uma nova ordem econômica mundial, na qual o dólar passou a ser a única moeda com valor diretamente fixado no metal. Nessa conferencia foram criados o FMI e o Banco Mundial.
A história confirma as dificuldades (e quase impossibilidade) de mudança na hegemonia do dólar.
Basta citar que o Brasil tem US$ 335 bi de reservas e a China, US$ 2 tri, tudo em dólar.
A conclusão que se chega, em relação a ousadia do governo brasileiro, é a percepção de Lula que precisa do financiamento da China para os seus projetos e do novo banco agora “liderado” por Dilma.
Quem na verdade manda no Banco do BRICS é o Partido Comunista chinês.
Não foi "de graça", que Lula conseguiu indicar Dilma para a Presidencia do Banco, afastando, inclusive, o seu antecessor Marcos Troyjo, indicado por Bolsonaro, cujo mandato somente terminaria em 2025.
Essa, certamente, é a razão pela qual Lula foi a China e fez genuflexão aos seus dirigentes.
Ele foi mais incisivo, de que o próprio líder chinês, em relação ao papel da União Europeia e dos Estados Unidos, neste conflito iniciado pela Rússia.
Deus queira que a conhecida habilidade de Lula em negociações, contorne os fatos e negociações futuras.
O que se deseja não é o fracasso do governo, mas o melhor para o Brasil.
Ontem, 18, ao receber o presidente da Romênia em Brasília, Lula já desdisse o que disse, ao declarar que condena a "violação da integridade territorial" da Ucrânia e defende uma solução de paz “política e negociada
No início de novo governo, não deixa de ser uma jogada perigosa esse “vai e vem” da nossa política externa, cujos desdobramentos são impossíveis de prever.