Postado às 07h23 | 29 Out 2022
Ney Lopes
O último debate da campanha transformou-se em chance perdida por Bolsonaro de “nocautear” Lula, como era o seu evidente desejo, ao apelar para palavras duras contra o adversário, tais como, ladrão, bandido, descondensado, marginal, presidiário ...
Esse objetivo não foi alcançado.
Nos primeiros momentos, Bolsonaro teve fisionomia tensa e não cumprimentou o público.
Nesse bloco, Lula afirmou que Bolsonaro era desequilibrado.
O ritmo da discussão tornou-se frenético.
No final do bloco, Lula deu as costas para Bolsonaro, quando o presidente o chamou para ficar ao seu lado.
Não houve nada que criasse um fato político novo às vésperas da eleição, a ponto de alterar o resultado final.
Em comparação com os debates anteriores, Lula estava seguro e combativo.
Bolsonaro, embora seguro em alguns pontos, dava sinais de estar pressionado pelo “tudo ou nada” e manteve elevado nível de agressividade.
Ambos esgrimiram números sobre indicadores de violência, recursos destinados à educação e a saúde e a questão ambiental, igualmente em relação ao emprego, à renda e taxas de crescimento.
Na abordagem do sistema previdenciário brasileiro, Lula detalhou uma série de direitos subtraídos na reforma da previdência do governo, que prejudicariam os aposentados e pensionistas.
Deu números concretos.
Bolsonaro preferiu não responder e abordou outros assuntos.
O presidente Jair Bolsonaro cometeu um ato falho e pediu novo mandato como deputado federal, ao invés de presidente, na declaração dada durante as considerações finais.
Merece registro a atuação civilizada e profissional do apresentador William Bonder.
Apenas usou, sem exacerbação, o direito de esclarecer a crítica de Bolsonaro, que o acusou de ter lido no JN texto sobre a inocência de Lula.
O mediador pontuou que repetiu o que o TSF declarou.
A troca de acusações entre Lula e Bolsonaro poderia ter se reduzido no segundo e quarto blocos, quando os presidenciáveis tinham que obrigatoriamente escolher um tema.
Assim não aconteceu.
Lula escolheu falar sobre combate à pobreza, mas o que houve foi a mesma troca de acusações.
Bolsonaro chamou Lula de corrupto e o petista não se esqueceu de mencionar acusações que pesam sobre o presidente e seus familiares sobre a compra de imóveis com dinheiro em espécie e as “rachadinhas”.
Em resumo, o debate foi jogo pesadíssimo com acusações recíprocas.
Lula ao final encaixou propostas concretas para o futuro.
Bolsonaro limitou-se a desconstituir a imagem de Lula, apresentando-o como desonesto e ex-presidiário.
Atacou, mais uma vez, o STF ao dizer que Lula era candidato por conta da proteção dos seus amigos da Corte Suprema.
Em resumo: Bolsonaro mostrou-se mais preparado do que em vezes anteriores, embora com nervos à flor da pele e agressivo.
Lula seguro preocupou-se em responder com objetividade para não ter desvantagem no tempo da réplica.
Enfim, o debate foi o retrato vivo da inédita polarização que vive o país.
Além disso um jogo pesado, com uso de palavras ofensivas e provocadoras.
Por isso, transformou-se em um momento que não servirá de exemplo para as futuras gerações de brasileiros.