Postado às 06h36 | 25 Jun 2023
Yevgeny Prigozhi, o rebelde, servia pessoalmente Putin em seu restaurante.
Ney Lopes
Yevgeny Prigozhin, o personagem que neste final de semana ameaçou o império soviético e esteve perto de invadir Moscou (chegou a 320 km da cidade), é um ladrão condenado.
Cumpriu 13 anos de prisão por roubo, fraude e corrupção de menores.
Agia principalmente em São Petersburgo, onde nasceu ainda na época da União Soviética.
Essa cidade é também onde nasceu Putin.
Depois da cadeia, ele virou vendedor de cachorro-quente.
O negócio evoluiu e tornou-se dono de um restaurante, que ganhou muita fama e passou a receber celebridades em Moscou.
Foi onde ele encontrou Vladimir Putin, frequentador habitual do restaurante, recebido com todas as honras pelo proprietário.
Da amizade, vieram contratos no governo para servir alimentação ao exército, quando Prigozhin tornou-se milionário.
Dessa proximidade com o líder russo, nasceu a ideia de um grupo que Prigozhin ajudasse em operações militares, mas não teria vínculo oficial com o governo russo.
Era um bom negócio para os dois.,
Aí foram dados os primeiros passos do que hoje conhecemos como Grupo Wagner, o maior exército privado de mercenários do planeta.
Entende-se por mercenário, aquele soldado que age ou trabalha apenas por interesse financeiro, por dinheiro ou algo que represente vantagens materiais.
Não tem compromisso com o seu país.
É uma espécie de tercerização da guerra.
O grupo tem hoje mais de 50 mil pessoas, segundo relatório de Inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido.
80% dos integrantes saíram das prisões da Rússia, segundo o Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Durante anos, inclusive agora na guerra da Ucrânia, os mercenários de Prigozhin atuam ao lado do exército russo.
Neste contexto, mesmo com o recuo de Prigozhin pactuado, ontem à tarde, a verdade é que "Putin está provando do próprio veneno".
A Rússia mostrou que está dividida e em crise.
Por enquanto, não se prevê repercussões na guerra da Ucrânia.
Tudo poderá acontecer nos próximos dias.
Putin está frágil.
Por exemplo, caso o seu próprio exército adira a Prigozhin, a destituição de Putin será iminente.
Putin precisa dos mercenários, que suprem carências do seu exército.
São eles que conseguem avançar onde o exército não consegue.
As violações do grupo Wagner são difíceis de serem julgadas por leis internacionais.
Todavia há riscos políticos ,como o que se observa no momento.
Prigozhin ganhou força e o seu grupo foi usado por Putin na guerra da Síria, onde a Rússia se aliou ao ditador Bashar Al Assad para combater os rebeldes financiados pelos Estados Unidos.
Os mercenários também atuaram em vários países africanos, como Líbia, República Centro Africana e Moçambique, onde Putin não quis envolver diretamente o seu exército, mas enviou seu batalhão privado para ganhar influência na região.
Na Venezuela, Putin financiou mercenários para dar suporte à segurança de Nicolas Maduro.
A análise final é que ,a revolta de Prigozhin chegou a um ponto sem volta, inclusive porque há dias algumas posições dos mercenários foram bombardeadas pelos próprios russos.
O acordo que ele fez de não invadir Moscou foi um jogo de marketing, para fortalecer a sua imagem, de que evitou um mar de sangue.
O que aconteceu agora mostra que o presidente russo perdeu o controle da situação.
Vladimir Putin chegou ao poder no ano 2000 e nunca sofreu uma ameaça tão forte.
Ironicamente, até que se prove o contrário, Putin luta por sua sobrevivência e não contra a Otan ou contra a Ucrânia.
Um ex-vendedor de cachorro quente tem sede de substitui-lo, na liderança do governo russo.
Ele que se cuide.
Aguardemos!
Poderá acontecer muita coisa, inclusive nada.