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Análise: "O pronunciamento de Bolsonaro e a oposição"

Postado às 06h34 | 03 Jun 2021

Ney Lopes

No clima de polarização que vive o Brasil é difícil usar a racionalidade para analisar fatos políticos como o pronunciamento ontem à noite do presidente Bolsonaro e a reação imediata de membros oposicionistas da CPI do senado, cujo relatório final das investigações ainda foi sequer discutido.

De um lado, o chefe do governo finalmente amenizou o tom polêmico que sempre usa e explanou algumas conquistas do seu governo.

No plano econômico destacou o anuncio do PIB surpreendente do primeiro trimestre e a expectativa de até 5,7% este ano, além dos 7% previstos para 2022.

Ao que se sabe, o Planalto planeja estender Auxílio Emergencial acima dos R$500 mensais e Bolsa Família com aumento e novo nome.

Externou confiança na retomada dos empregos e a garantiu 100 milhões de vacinas, até o fim deste ano.

Exaltou a condição do Brasil ser um dos poucos produtores de vacina no mundo,sobretudo o acordo firmado com a FioCruz e AstraZeneca  para a transferência de tecnologia na imunização contra o coronavírus.

Em questão de minutos, após o final do pronunciamento presidencial, membros oposicionistas da CPI da Covid divulgaram veemente nota de condenação. 

As críticas dos senadores têm como fundamento, o atraso fatal e doloroso do governo no início da vacinação, ao assinalar que tal providencia deveria ter sido tomada em 24 de março de 2020, quando o presidente chamou a doença de “gripezinha".

Analisemos tais posições.

Em primeiro lugar, a maioria da CPI poderia contestar a fala presidencial em vários aspectos, menos emitir julgamento prévio sobre a condução do governo na pandemia.

Isso significa que a condenação já está definida, sem nenhuma atenuante e põe em risco a credibilidade do senado.

O presidente, pela primeira vez falou com serenidade. Antes só agredia, sem a preocupação de concentrar forças nas questões nacionais, esquecendo até conquistas do seu próprio governo.

Todavia, se o presidente age assim, não justifica que “juízes parlamentares” numa CPI façam a mesma coisa.

Observe-se, ainda, que a vacinação não poderia ter começado em março de 2020, quando os imunizantes, sequer tinham sido descobertos.

O comentário de “gripezinha” foi equivocado, mas não invalida que posteriormente medidas sanitárias, inclusive vacinação, fossem tomadas.

É o caso do ditado: “antes tarde do que nunca”.  

Ademais, legalmente a condenação de quem causa dano coletivo por omissão, ou ação, impõe que seja examinado o vínculo de causalidade, ou seja, se o acusado devia e podia agir de outra forma  para evitar o resultado.

No caso do vírus, o presidente do CFM voltou a afirmar que a posição oficial da entidade médica é que até hoje “não tem certeza sobre nada em relação a essa doença desconhecida”.

Conclui-se que a CPI poderá contribuir com sugestões para amenizar os efeitos da catástrofe epidêmica.

O que não deve é julgar de véspera e contribuir para o caos nacional, da mesma forma que muitas vezes o presidente contribui, com declarações despropositadas, cuja vítima é o seu próprio governo.

Uns e outros devem agir com noção de justiça e bom senso

 

 

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