Postado às 06h40 | 14 Fev 2021
Jornal "Gazeta de Notícias" editado à época no Rio de Janeiro.
Ney Lopes
Hoje, domingo de carnaval! Uma curiosidade que espero se repita em 2022. O carnaval após a pandemia da gripe espanhola (1919), especialmente o do Rio de Janeiro, foi o mais animado da história brasileira.
Carlos Heitor Cony justificou, anos depois, escrevendo: “Acho que o carnaval é uma festa que tenta ser alegre para os tristes”.
Ruy Castro definiu esse carnaval como o da “revanche”: “a grande desforra contra a peste que dizimara a cidade”.
Neste carnaval, surgiu o “Cordão da Bola Preta”, que existe até hoje. O Brasil não participara da I Guerra Mundial (1914-1918), mas o fim do conflito à época contribuiu para o clima de vingança contra a dor coletiva. Relatam cronistas da época que o “carnaval significou como uma espécie de vingança da alegria: o ânimo era incontrolável, a felicidade era absoluta, todos dançavam e se abraçavam nas ruas, e nas marchinhas, músicas e nos carros, a doença também dominava enquanto tema – mas, finalmente, tratada com deboche e humor”.
Não existiam escolas de samba, mas “blocos” desfilavam e a maioria com o vírus como tema. Registros fotográficos mostram carro com caveiras que representavam a “dançarina espanhola”, cercada de pierrôs, arlequins e colombinas.
Outro, uma grande xícara com a inscrição “chá da meia-noite”, referência à bebida mortal que, dizia-se, era servida aos desenganados para acelerar o adeus.
A esperança é que o carnaval de 2022 supere o de 1919 e os brasileiros possam repetir os versos do poeta Bastos Tigre:
“Quem não morreu da espanhola, quem dela pôde escapar, não dá mais tratos à bola, toca a rir, toca a brincar”.