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Análise: o discurso de Bolsonaro

Postado às 06h07 | 02 Nov 2022

Ney Lopes

O presidente Jair Bolsonaro falou ontem, 01, ao país.

Estava ladeado de vários ministros e amigos.

Notou-se a ausência do ministro Fábio Faria, das Comunicações, que foi criticado por alguns membros da campanha por ter feito uma denúncia, dias antes da eleição, sobre supostas irregularidades nas inserções de rádio.

O documento acabou arquivado pela Justiça Eleitoral. Diante da repercussão negativa, o ministro recuou e disse que estava arrependido.

O seu colega, Ciro Nogueira, da Casa Civil, assumiu o comando da transição.

Para entender o pronunciamento de Bolsonaro, sem cumprimentar o vitorioso, é necessário lembrar George-Louis Leclerc, o conde de Buffon, em discurso na Academia Francesa, quando disse: "Le style, c'est l'homme même", isto é, o estilo é o homem.

Com essa frase, Buffon quis dizer que o estilo é a expressão máxima do indivíduo, a tradução do seu próprio caráter, e isso, como sabemos, se reflete no modo como fala, como escreve, como age.

O “estilo” de Bolsonaro, conhecido no mundo, explica a forma como ele falou.

Em qualquer circunstância, a fala presidencial contribuiu para o país respirar aliviado.

Inicia-se a transferência de governo.

É excelente a indicação do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin para conduzir a transição.

Ele não é do Partido dos Trabalhadores e tem posição de centro-direita. Isso torna mais fácil o diálogo.

No seu discurso, Bolsonaro agradeceu só e apenas aos brasileiros que votaram nele, elogiou a “força” do seu movimento no Congresso, disse perceber os protestos “pela forma como decorreu o processo eleitoral” - mas pediu que não seguissem “os métodos da esquerda”.

Comentou os movimentos de protesto dos caminhoneiros: “São fruto de indignação, ressentimento e injustiça de como se deu o processo eleitoral”.

Deixou nas entrelinhas, que não considerou normal a votação de domingo, mas não contestará os resultados.

Garantiu, que seguirá como “líder de milhões de brasileiros”.

Até agora, os únicos que demostram vontade de não aceitar os resultados eleitorais foram os caminhoneiros.

A visita do presidente Alberto Fernández, da Argentina, a Lula em SP gerou controvérsias, pela expressão por ele usada de que “abre-se um novo tempo para a história da América Latina”.

Muitos intoxicados pelos germes de um radicalismo ideológico doentio, logo identificam que a expressão do presidente argentino significa o domínio da esquerda na América Latina.

Não se negam as aproximações históricas do presidente eleito com lideranças de esquerda latino americanas.

Porém não significa a venezualização do Brasil, por exemplo.

Se não ocorreu no passado, não ocorrerá no futuro.

Analistas admitem que Lula será um ponto de convergência entre as ideologias no poder na América Latina.

Seria absurdo pensar que ele optará pelo estilo Maduro, ou cubano, até porque para ganhar a eleição armou um leque de apoio no centro e na direita.

Note-se que, da mesma forma como Lula recebe saudações da chamada esquerda latino-americana, o presidente Biden lhe acena para aproximação e parcerias.

Os desafios à frente exigem muito equilíbrio e afastamento de posições enrijecidas por ideologias intolerantes.

 Credibilidade será a prioridade.

Essa exigência dependerá do anuncio dos ministros das áreas econômica e social, que deverão andar de mãos dadas no governo eleito.

Há que lembrar o fato do futuro Governo ter um Congresso nacional mais hostil e boa parte do Orçamento já comprometido para 2023.

Lula terá a seu favor a longa experiência política e habilidade nas articulações políticas.

Conta com o apoio de parte do setor financeiro e da maioria dos países europeus, EUA e China.

Transita bem na área internacional e já recebeu um convite para representar o Brasil na COP-27, tradicional Cúpula do Clima, que será realizada em novembro, no Egito.

Em resumo, o pronunciamento do presidente Bolsonaro tranquilizou o país.

Com a garantia dada por ele do respeito a Constituição, a transição de governo no Brasil será pacífica.

Agora, mãos à obra na construção do futuro, que é reponsabilidade de todos.

 

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