Postado às 06h23 | 17 Out 2022
Ney Lopes
A análise do debate de ontem, 16, entre Bolsonaro e Lula conduz a um grande vitorioso: a direção da TV Band.
Usou modelo novo ao permitir o confronto direto entre os candidatos, que deu certo.
Permitiu ao telespectador acompanhar de perto as reações dos debatedores, nas contrações da fisionomia e até a “tapinha” nas costas do oponente (Bolsonaro em Lula).
Bolsonaro parecia bastante cansado, talvez pela longa noite anterior do episódio sobre as meninas venezuelanas, que vivem na periferia do DF.
Lula cauteloso, evitou provocações.
Não houve novidade ou bala de prata.
O mais curioso foi o presidente elogiar o seu desafeto, ministro Alexandre de Moraes, de quem é crítico permanente.
O magistrado determinou que o PT remova de suas redes sociais fala de Bolsonaro sobre venezuelanas.
Com a decisão favorável, o bolsonarismo alegra-se.
Quando desfavorável, no mínimo alguns apoiadores propagam o desejo de “fechar” os tribunais.
Os temas que “acuaram” os dois candidatos foram pandemia e corrupção, dando a sensação final de que o desempenho final dos debatedores os levou ao um empate técnico.
Na abordarem da pandemia, Lula saiu-se melhor ao falar das vidas perdidas, as denúncias de corrupção na compra da vacina e a demora na imunização da população.
No último bloco, Bolsonaro saiu-se melhor, ao trazer argumentos sobre a Operação Lava Jato, que lhe foram transmitidos no intervalo pelo senador Sérgio Moro, agora seu aliado “desde criança”, que tomou o lugar do assessor especial da Presidência da República, Vicente Santini.
Um momento importante foi a discussão sobre a Amazônia e a preservação do meio ambiente.
Bolsonaro afastou-se do debate a nível global, e adotou o discurso de que floresta é um patrimônio mundial e o Brasil preserva soberania.
Sem dúvida, a soberania nacional é absolutamente prioritária.
Todavia, isso não impede, a interação com o mundo, sobretudo nas pesquisas sobre a biodiversidade, de forma a explorar economicamente esse potencial de riqueza, sem destruir o meio ambiente.
Ao iniciar o terceiro bloco, o “jogo” mostrava certa vantagem para Lula, que deu um "bobeada".
O ex-presidente calculou mal o seu tempo disponível e entregou cinco minutos finais ao presidente
Aí, Bolsonaro cara a cara com o gol vazio chutou para fora.
Ficou falando sozinho, ao invés de atrair indecisos.
Preferiu insistir em temas como a relação do petista com a Nicarágua, Venezuela etc.
Bolsonaro, mais uma vez, preferiu falar apenas para a sua bolha de fanáticos e radicais.
Mesmo assim, o presidente não pode ser tido como perdedor.
Em verdade, a radicalização da disputa política limitou o efeito desempenho no debate.
A temática do desenvolvimento social e econômico indicou que problemas relevantes e atuais da realidade nacional deixaram de ser contemplados, negando aos eleitores a oportunidade de conhecerem a posição de cada candidato a esse respeito.
A dissociação entre a temática dos programas sociais e educacionais e os compromissos assumidos foi indicativa de ausência de proposições consistentes.
Ou seja, parece ter faltado espaço para enquadramentos divergentes das questões públicas de real interesse da população.
Pode-se concluir que ambos saiam do debate do jeito que entraram.
Lula segue com a missão de atração de votos entre indecisos e os eleitores da terceira via.
O presidente, por sua vez, precisa atrair também esse eleitor e, especialmente, mobilizar quem se absteve no primeiro turno.
A troca de acusações mexe com as paixões dos eleitores, mas certamente não será suficiente para provocar uma migração em massa para um dos lados.
A campanha segue e o juiz final será o eleitor!