Postado às 06h48 | 17 Nov 2022
Ney Lopes
O presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva não teve um bom começo no cenário internacional, ao discursar ontem, 16, na COP 27.
Certamente, a opinião será contestada pelos seus seguidores, que formaram, em parte, uma “claque” para aplaudi-lo, na sala onde ele falou durante o evento.
Aquela seria uma oportunidade do eleito mostrar altivez, esquecer primarismos políticos e evidenciar ao mundo que o Brasil terá uma política ambiental soberana e independente.
Assim não aconteceu.
O presidente usou a COP 27 para repetir o seu “discurso de campanha” ao afirmar que “infelizmente, desde 2019, o Brasil enfrenta um governo desastroso em todos os sentidos – no combate ao desemprego e às desigualdades, na luta contra a pobreza e a fome, no descaso com uma pandemia que matou 700 mil brasileiros, no desrespeito aos direitos humanos, na sua política externa que isolou o país do resto do mundo, e também na devastação do meio ambiente”.
O presidente eleito chegou a citar que o Brasil estava dividido pela propagação em massa de fake News e discursos de ódio, como se isto interessasse ao meio ambiente.
Um fórum internacional como a COP 27 não é local para lavar “roupa suja” da política interna dos países.
O objetivo é buscar alternativas globais que assegurem uma vida saudável no planeta.
Embora tenha se referido “an passant” às promessas de liberação de recursos pelos países ricos para ajudarem em políticas ambientais, o eleito perdeu a oportunidade de cobrar com ênfase o cumprimento desses acordos.
Esse ponto teria repercussão na execução de metas ambientais a que se propõem na Amazônia.
Entretanto, preferiu agradar as grandes potencias, cedendo em tudo que elas reivindicam, como se nada existisse de positivo na política ambiental do nosso país.
É um absurdo prometer o desmatamento “zero” na Amazônia.
Pode agradar o agronegócio americano pela redução da nossa área agricultável e aumento de mercado para eles.
O nosso Código Florestal, exemplo para o mundo, prevê 80% de preservação e 20% de exploração, que é uma medida justa.
O combate ao desmatamento ilegal deve ser feito.
Ninguém contesta isto.
Outro ponto praticamente esquecido pelo presidente eleito foi a exaltação ao nosso agronegócio, setor que é exemplo de eficiência.
Lula prometeu apoiar, porém percebe-se que ele ainda tem o sotaque de rejeição, quando chamou parte do setor de fascista e direitista e afirmou que limitaria a exportação de carne.
Próximo às eleições, no entanto, amenizou o tom.
O presidente eleito repetiu que “O mundo sente saudade do Brasil”.
Porém, a saudade do Brasil é simbolizada por gestos como de Joaquim Nabuco o nosso grande diplomata e político –defensor da libertação dos escravos ainda no Império.
Enquanto os Estados Unidos simpatizavam com a escravatura, Nabuco não cedeu, nem demonstrou ingenuidade ou subserviência ao grande país do Norte.
Apelou para negociações, que resultaram positivas.
O mesmo deve acontecer na atualidade, em matéria de meio ambiente.
Infelizmente, o discurso de Lula na CPO 27 não teve essa altivez.
Preferiu combater o seu adversário interno e concordar com as pressões externas.
Preocupante!